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Linguagista

«Palavra do Ano»

Sem rapapés: é monopé

 

      Nesta altura do ano, podemos contar com uma tradição tão arreigada como a do Dia das Bruxas: é a Palavra do Ano® da Porto Editora. Entre as dez palavras candidatas deste ano, está «bastão de selfie», e não «pau de selfie». Ou seja, uma locução. Paulo Rebelo Gonçalves, da Porto Editora, tentou explicar — e eu tentei perceber: «Foi considerado pela nossa equipa que é a designação correcta.» E porquê? Pois porque se trata de um «instrumento que reflecte a realidade e não nos reduzimos à dimensão ortográfica da palavra». Em que outra dimensão estava a pensar, nem pistas. E eu que pensava que a um instrumento com aquela forma e função se chamava monopé. Claro que não lhes podia ocorrer tal, pois o Dicionário da Língua Portuguesa daquela editora o mais aproximado que regista é monope, «que tem um só olho, monoftalmo». Ora, qualquer criatura monope, até o Ciclope, vê menos, acho eu, do que uma criatura como nós. Aqui entre nós, é bem provável que a preferência nacional descambe em «stick de selfie».

 

[Texto 6443]

Pronúncia: «lingueirão»

Quando corrigir é errar

 

      Anteontem, o jornalista Paulo Salvador estava no programa Prova Oral, da Antena 3, para falar do seu livro, Mesa Nacional (Oficina do Livro, 2015). Quando Fernando Alvim falou de lingueirão — e pronunciou bem a palavra, /gu-ei/ —, Paulo Salvador «corrigiu» logo, pronunciando /gej/, ou seja, não proferindo o u. Só pode ser confusão com outras variantes, como longueirão e langueirão, em que o u, de facto, se não pronuncia. Neste caso, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista a pronúncia correcta, e não teriam desculpa se o não fizessem, pois Rebelo Gonçalves é claro: «lingueirão (ü), s. m.». Nunca eu ouvi pronunciar o vocábulo de outra forma. O Portal da Língua Portuguesa, do ILTEC, não regista a pronúncia correcta, mas, como se lê que é a «Pronúncia indicativa (em teste)», não podemos senão esperar que irão corrigir mal saibam que está errado. A não ser que se pronuncie assim na Avenida Elias Garcia.

 

[Texto 6442] 

«Vocabulário da Língua Portuguesa»

Pela língua, píxeis ou caracteres

 

      Está ao alcance de alguns prestarem um serviço inestimável à cultura, à língua, à pátria. Basta quererem. Um desses serviços era os herdeiros de Francisco Rebelo Gonçalves (1907-1982) permitirem que se reeditasse o insubstituível Vocabulário da Língua Portuguesa daquele autor, farol que ainda hoje alumia lexicógrafos, linguistas e estudiosos da língua. O jornal Público, que quer — iniciativa a todos os títulos louvável — pôr Sequeira no lugar certo, devia fazer o mesmo com esta obra de Rebelo Gonçalves. Neste caso, o lugar certo é nas nossas estantes, na nossa mesa de trabalho. Não sou rico, mas não deixaria certamente de comprar uns 500 caracteres. Embora... Vendo bem, talvez os meus concidadãos se interessem mais por píxeis. Seja, então.

 

[Texto 6441]