Um pouco de futurismo
«Caro Amigo, que lhe parece a passagem de “salafismo” para “salafita”? Não lhe parece mais correcto dizer “salafista”?! Serão estrangeirismos de origem diversa? Obrigado.»
Parece-me uma passagem perfeita, como de islamismo para islamita ou de vaabismo para vaabita. Em relação a islamismo, houve, entretanto, quem visse a «necessidade» de distinguir o crente, que sempre fora conhecido por «islamita», do combatente, que quiseram baptizar «islamista». Poderia pensar-se que o s pretenderá aludir ao carregador a atravessar o peito do combatente, mas não: distraídos, começaram a escrever assim porque não viram que vem de «islame», e o segundo s de «islamismo» impôs-se-lhes aos olhos. Muito depois de Rebelo Gonçalves registar apenas «islamita» no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, Celso Cunha escreveu esta notinha numa página da sua Gramática Moderna: «Nem todos os designativos de sectários ou partidários de doutrinas ou sistemas em -ismo se formam com sufixo -ista. Por exemplo: a protestantismo corresponde protestante; a maometismo, maometano; a islamismo, islamita» (Belo Horizonte: Editora B. Álvares, 1970, p. 49).
O que me parece que já está a suceder é que os dois termos, «islamita» e «islamista», são usados indiferentemente, como meras variantes, para nomear os dois conceitos. No futuro, quando já cá não estivermos, prevejo que essa convergência se solidifique, concluindo-se então que, afinal, não era preciso distinguir nada.
«Vejamos como Abd-el-Jalil — que é um dos paladinos do movimento salafita — entende a unidade religiosa dos islamitas» (O Mundo Árabo-Islâmico e o Ultramar Português, José Júlio Gonçalves. Lisboa: Ministério do Ultramar/Junta de Investigações do Ultramar/Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1958, p. 14).
[Texto 6444]