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Linguagista

Ortografia: «betatalassemia»

Ana: alfa, beta

 

      «Ora, justamente, as preocupações relativas ao uso da CRISPR-Cas9 surgiram quando, há uns meses, cientistas chineses anunciaram na Nature que a tinham aplicado para modificar o ADN de dezenas de embriões humanos, de forma a “editar” um gene cujas mutações provocam uma doença do sangue, a beta-talassemia, potencialmente mortal» («O que fazer com este incrível “corrector ortográfico” dos genes?», Ana Gerschenfeld, Público, 3.12.2015, p. 28).

    E a propósito de corrector ortográfico, Ana Gerschenfeld: como já aqui vimos para alfassinucleína, beta- não é propriamente prefixo, mas mera transliteração de um carácter grego, β; só a estranheza e a dificuldade em o usar (sim, até por jornalistas) recomendam que, em vez de se escrever β-talassemia, se escreva betatalassemia.

 

[Texto 6449]

«Pedaladas fiscais»

Tão parecidos

 

      «Entre os principais argumentos que sustentam o pedido de destituição contra a Presidente brasileira acolhido por Eduardo Cunha na quarta-feira estão as chamadas “pedaladas fiscais” alegadamente cometidas 
nos dois governos de Dilma Rousseff, uma manobra que consiste no uso indevido
 de fundos bancários para ultrapassar metas orçamentais e mascarar as contas públicas. A prática foi condenada em Outubro pelo Tribunal de Contas da União, órgão que fiscaliza as contas públicas» («As “pedaladas fiscais” que ameaçam a Presidente», Kathleen Gomes, Público, 4.12.2015, p. 26).

    Já que com o Acordo Ortográfico de 1990 (e com os diacríticos...) ficámos ainda mais desunidos, pelo menos que se percebam estas expressões.

 

[Texto 6448]

Sobre os diacríticos

Ciência, isto?

 

      «O que complica o caso de bem do ponto de vista ortográfico é que, embora constituindo com o segundo elemento unidade sintagmática e semântica, ela não o é rigorosamente da mesma natureza quando há necessidade do emprego do hífen e quando, justapostos, os elementos se ligam sem o concurso do diacrítico, isto é, juntos» («O comportamento de “bem” prefixado», Evanildo Bechara, O Estadão de S. Paulo, 7.02.2009).

      O que este imortal (não que ficasse com essa ideia quando o vi agora em Lisboa) afirma é o que quase todos os autores afirmam no Brasil: o hífen é um sinal diacrítico. Pelo que pude ver, os nossos dicionários — incluindo o Dicionário Houaiss de 2003 — não consideram o hífen sinal diacrítico, ao contrário dos brasileiros. Transcrevo o que se lê no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o que valerá por todos: «diz-se de ou sinal gráfico (acento gráfico, cedilha, til, trema) destinado a distinguir a modulação das vogais e a pronúncia de certas palavras». Exactamente como aprendi: os diacríticos são sinais que fornecem informação puramente fonética. Mas aquela lição de além-mar não é para nós assombração de além-túmulo: também Cristóvão de Aguiar, nas Charlas Sobre a Língua Portuguesa, considera o hífen um diacrítico. Edite Estrela, nas Dúvidas do Falar Português, escreve que são sinais diacríticos os «acentos, til, hífen, cedilha, apóstrofo». O mesmo para o Dicionário Terminológico, agora tão pouco citado. Não é preciso aprofundar para concluir que o conceito está, estranhamente, dependente da opinião de cada autor.

 

[Texto 6447]