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Linguagista

Sobre «monofisismo»

Só têm de corrigir

 

      Sobre monofisismo, lê-se isto na Infopédia: «O monofisismo foi uma doutrina herética oriental do século V d. C. O nome de “monofisismo” advém da crença em uma só natureza (ou physis, em grego) na pessoa de Cristo. O seu principal promotor foi Eutiques, que acabou por ser condenado no Concílio de Calcedónia em 451. […] Na sexta sessão, esta fórmula foi aceite também pelos imperadores bizantinos Marciano e Pulquéria, sendo contudo rejeitada por um dos mais acérrimos monofisistas, Dióscuro.» E, no entanto, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista «monofisista», apenas «monofisita». O bom Sacconi regista ambos (mas não acolhe «salafita» nem «salafista» ou «vaabita», e tão-pouco «islamista», apenas «islamita»). E claro — adeus, cultura clássica — que é Êutiques e Dióscoro. Corrijam, não propaguem ainda mais erros.

 

[Texto 6466]

Como se escreve nos jornais

Estão a brincar connosco?

 

    Por vezes, não me parece que seja apenas ignorância, acho que também querem brincar com o leitor: «Um taxista de 30 anos foi detido ontem de madrugada, pelas 3h30, no Largo Trindade Coelho, em Lisboa. É suspeito de ter furado pneus em várias viaturas Uber durante a 
noite. Em comunicado, a PSP informa que as autoridades foram alertadas para “altercações de ordem pública entre taxistas e colaboradores de empresas afectas à ideologia Uber”» («Taxista detido por furar pneus de carro da Uber», Público, 9.12.2015, p. 7).

  «Altercações de ordem pública»?! «Ideologia Uber»?! Tenham paciência, mas isto é uma coisa inapresentável. Deviam pedir desculpa aos leitores.

 

[Texto 6465]

Ortografia: «protoindo-europeu» (AO90)

Qual a dificuldade?

 

      No texto, que seguia o AO90, podia ler-se que aquela palavra, o nome de um fruto, vinha do «proto-indo-europeu». Hum... No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, indo-europeu, sim, já quanto a proto, nada. Nos vocabulários editados em Portugal, nada. No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, lá está: «protoindo-europeu, s. m.». No Grande Dicionário Sacconi, que hoje me trouxeram do Brasil, o mesmo (p. 1687). Está certo: encontramos a regra na Base XVI, 2.º, b), do AOLP90: não tem hífen «nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos». Não sei porque não registam o termo os nossos dicionários e vocabulários, quando todos eles acolhem protoestrela, por exemplo.

 

[Texto 6464]

Partículas de matéria

Seremos incapazes de fazer o mesmo?

 

      «O método mais convencional para se chegar ao risco de saúde de uma dada poluição atmosférica faz-se pela medição de Partículas de Matéria 2.5 (PM2.5). Entre outros elementos, estas minúsculas partículas — 0,0025 milímetros, daí o seu nome — contêm vestígios de metais, combustão e compostos orgânicos suficientemente pequenos para entrarem no sistema respiratório ou circulação sanguínea. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um máximo de 25 microgramas de PM2.5 por metro cúbico para que o ar seja considerado saudável» («Pequim entra pela primeira vez em alerta vermelho por causa da poluição», Félix Ribeiro, Público, 9.12.2015, p. 19).

   Tudo junto, numa horrível amálgama, como fazem com outros símbolos. Mas não apenas isso: em obras sobre estas questões, é assim que aparece grafado — PM 2,5.

[Texto 6463]