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Linguagista

Sobre «retorquir»

«Returco»?

 

      «Até que enfim!”, exclama a mulher enlutada, de cabelos brancos presos num ó, mal abre a porta grande, pesada. “Vale mais tarde do que nunca”, retorque Américo Santos, com a caixa de ferramentas na mão» («Um faz-tudo que vai de aldeia em aldeia», Ana Cristina Pereira, Público, 13.12.2015, p. 21).

    É com surpresa, tendo em conta o empobrecimento geral e paulatino da língua, que lemos num jornal o verbo «retorquir». Não há muito para dizer sobre o verbo retorquir: é um verbo defectivo, ou seja, conjuga-se apenas em certas formas, no caso, as formas em que ao radical se segue e ou i. Na verdade, são mais comuns as formas em que se segue o i. Atenção que o u nunca soa. Para as formas defectivas há verbos substitutos, como objectar e replicar, por exemplo. Parece tudo muito simples, mas não há consenso. Se, para alguns dicionários, como o Aurélio (2.ª ed.), é defectivo (mas, estranhamente, este dicionário regista também a variante retorqüir), não é assim para todos os autores: Rodrigo de Sá Nogueira, por exemplo, não o considera defectivo: returco, etc.

 

[Texto 6472]

Léxico: «medicalizado»

Está prestes a acontecer?

 

    «“Estamos à espera da aprovação do Infarmed que nos habilita a conceber e a comercializar produtos que podem ser apresentados como medicalizados. Estamos a pensar em segmentos como as gestantes ou os diabéticos, entre outros. Na área do desporto também já temos uma linha de produtos para o ballet e o ioga. E vamos continuar”, afirma Sandra Morais» («Marca portuguesa de collants quer juntar moda e medicina para crescer», Luísa Pinto, Público, 13.12.2015, p. 24).

      Como é que «medicalizar» e «medicalizado» ainda não estão no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e noutros dicionários? Há anos que temos ambulâncias medicalizadas, por exemplo.

 

[Texto 6471]

«Eminente/iminente»

Está prestes a acontecer

 

      «A empresária diz que nem gosta de falar nisso, que o pior já passou, e que o processo de insolvência de 2009 pertence ao passado. A actual proprietária assumiu a liderança da empresa familiar e resgatou a Custoitex de um fecho eminente» («Marca portuguesa de collants quer juntar moda e medicina para crescer», Luísa Pinto, Público, 13.12.2015, p. 24).

      Esta é uma confusão de sempre e, o que é pior, para sempre. Como é que um jornalista, que tem de ter noção destas particularidades da língua, não tem cuidado, não relê, não consulta um dicionário? Ou porque não encontra uma mnemónica para prescindir — como agora já faz... — do dicionário?

 

[Texto 6470]