Então já não é
«A visita a um cemitério proporciona, na actualidade como nos tempos idos, motivos profundos de reflexão, na medida em que aí nos é possível colher flagrantes da atitude do Homem perante a Morte» (Epigrafia. As Pedras Que Falam, José d’Encarnação. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010, 2.ª ed., pp. 32-33).
Algum erro, ali em cima? Não me parece. Em 2014, um engenheiro angolano quis saber se se diz «em tempos idos» ou «nos tempos idos». A consultora do Ciberdúvidas Sara Mourato respondeu: «A expressão corrente em português, atestada por António Nogueira dos Santos em Português – Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006), é “em tempos idos”. São duas as entradas que podemos encontrar para esta expressão fixa – “em tempos” (ou “em tempos que já lá vão”) e “em tempos idos”, ambas com o significado de “num passado distante”. Verificamos, portanto, que não existe nenhuma ocorrência da expressão “nos tempos idos”, pelo que a ausência de artigo definido se explica pela razão de estas expressões se terem fixado assim mesmo.
Por expressão fixa, entende-se uma expressão constituída por mais do que uma palavra, cujo significado não pode ser inferido a partir do significado das partes que o constituem. Nelas, os elementos constitutivos são distribucionalmente fixos, ou seja, têm pouca flexibilidade para sofrer alterações, como o caso de “em tempos idos” ilustra bem» («A expressão fixa “em tempos idos”», 15.01.2014, aqui).
Acaso há expressões que não sejam constituídas por mais de uma palavra? E na expressão «em tempos idos» o significado não pode ser inferido do significado das partes que o constituem? Parece-me que pode. Então, sendo assim, já não é expressão fixa?
[Texto 6480]