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Linguagista

«Internet, internet e Rede»

Trolls dentro e fora da Rede

 

      «Porém os caçadores de trolls fazem pior: apelam à limpeza da internet e apelam à criminalização de um número crescente de expressões que aparecem na Rede» («O feitiço contra o feiticeiro», Brendan O’Neill, tradução de Ana Marques, Courrier Internacional, Fevereiro de 2015, p. 60)*.

      A tendência parece ser essa: para os dois sentidos em que se usa o termo, minúscula, internet; a união das várias redes é a Rede. Eu, como já puderam ver, uso sempre maiúscula, Internet. Qualquer tentativa — como esta aqui, no Ciberdúvidas — de distinguir esbarrou sempre em contradições e preciosismos difíceis de discernir e de aplicar. Por exemplo, quando é que o usamos no sentido de protocolo? Quando é simples meio? «Logo à noite, mando-te os recibos pela internet.» E no sentido de rede mundial? «Na Internet, encontramos excelentes blogues; quando, como acontece com alguns, se transformam em livro, assalta-nos uma sensação de déjà-vu e os mais mal-agradecidos e odientos cospem na sopa.»

      Seja qual for a conclusão, impõe-se, como sempre, simplificar, não fazer o contrário.

 

[Texto 6517]

 

      * Trata-se, segundo a revista, de excertos, mas não esperava que ao trecho que eu cito correspondesse isto no original: «But the trollhunters, from misogyny-policing feminists to the papers that splash photos of trolls across their front pages to the police who arrest them in dawn raids, do something far worse than any vocab-challenged bloke with a grudge and an internet connection could ever hope to achieve. They chill and sanitise the internet, and invite the criminalisation of more and more forms of online speech.»

Léxico: «gamificação»

Processo universal de ludificação

 

      «Nos tempos que correm, a grande tendência é a “gamificação” (uso das mecânicas do jogo para aplicações que não o sejam), que não passa de uma outra forma de utilizar os métodos de reforço intermitente para viciar os utilizadores» («A vida sem computador», David Roberts, tradução de Ana Marques, Courrier Internacional, Fevereiro de 2015, p. 62).

      Se nos aparecesse descontextualizado, quem é que ia acertar no significado de «gamificação»? A solução não está na nossa língua, nem tão-pouco nas suas raízes greco-latinas. Andaríamos entre o simpático ruminante da família dos Cervídeos e o elemento que exprime a ideia de casamento, união. E, no entanto... No protogermânico, de onde tudo isto derivou, ga- é prefixo colectivo e mann é pessoa, o que, tudo junto, dá a ideia de união. Porque diversão a sério envolve mais de uma pessoa? E, para os esquecidos, deve dizer-se que gamificação foi candidata a palavra do ano, por iniciativa da Porto Editora, em 2014. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que a regista, dá-nos esta definição: «uso de técnicas características de videojogos em situações do mundo real, aplicadas em variados campos de actividade, tais como a educação, saúde, política e desporto, com o objectivo de resolver problemas práticos ou consciencializar ou motivar um público específico para um determinado assunto; ludificação». O Facebook é o exemplo acabado desta técnica, que acho detestável; no entanto, como também tem aspectos únicos, positivos, por lá ando.

 

[Texto 6516]