O escol precisa de escola
Quem me segue sabe bem como me agrada ler a secção «cartas ao director» dos jornais. Repetem-se muito os nomes, e, por isso, parecem constituir um escol. Este, ao começar com «aquando», tinha tudo para eu não o ler, mas faria mal. «Aquando da tomada de posse
dos últimos governos, em 30 de Outubro e em 26 de Novembro, todos os membros disseram:
“Eu, abaixo-assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. Ora a verdade é que só depois da leitura deste compromisso é que o foram assinar e consequentemente não eram, no momento, abaixo-assinados. O rigor mandaria
que primeiro assinassem e só depois lessem ou dissessem o compromisso. Ou, então, fosse alterada a expressão “eu, abaixo-assinado”, para “eu, que abaixo assinarei.” Isto é uma coisa simples que qualquer criança anotará sem expor ninguém à chacota, mas sim ao rigor das palavras e à sequência dos actos. As cerimónias foram vistas por milhões de portugueses através da televisão e merecem
o máximo do rigor, não sendo admissível que antes de iniciar as suas funções os empossados sejam menos verdadeiros, dizendo-se abaixo-assinados quando ainda nada assinaram» (João José Edward Clode, «Cartas à directora», Público, 1.12.2015, p. 44).
Rigor paranóico, isso sim. Rigor necessário: não se escreve, João José Edward Clode, «eu, abaixo-assinado» — equivalente de «eu, cujo nome aparece abaixo assinado» —, mas sim «eu, abaixo assinado», se for homem; «eu, abaixo assinada», se for mulher. O documento em que se exprime a opinião de um grupo ou representa os interesses das pessoas que o assinam é que é um abaixo-assinado. Promete que neste não volta a cair?
[Texto 6440]