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Linguagista

«Vocabulário da Língua Portuguesa»

Pela língua, píxeis ou caracteres

 

      Está ao alcance de alguns prestarem um serviço inestimável à cultura, à língua, à pátria. Basta quererem. Um desses serviços era os herdeiros de Francisco Rebelo Gonçalves (1907-1982) permitirem que se reeditasse o insubstituível Vocabulário da Língua Portuguesa daquele autor, farol que ainda hoje alumia lexicógrafos, linguistas e estudiosos da língua. O jornal Público, que quer — iniciativa a todos os títulos louvável — pôr Sequeira no lugar certo, devia fazer o mesmo com esta obra de Rebelo Gonçalves. Neste caso, o lugar certo é nas nossas estantes, na nossa mesa de trabalho. Não sou rico, mas não deixaria certamente de comprar uns 500 caracteres. Embora... Vendo bem, talvez os meus concidadãos se interessem mais por píxeis. Seja, então.

 

[Texto 6441]

«Abaixo-assinado/abaixo assinado»

O escol precisa de escola

 

      Quem me segue sabe bem como me agrada ler a secção «cartas ao director» dos jornais. Repetem-se muito os nomes, e, por isso, parecem constituir um escol. Este, ao começar com «aquando», tinha tudo para eu não o ler, mas faria mal. «Aquando da tomada de posse
 dos últimos governos, em 30 de Outubro e em 26 de Novembro, todos os membros disseram:
 “Eu, abaixo-assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas”. Ora a verdade é que só depois da leitura deste compromisso é que o foram assinar e consequentemente não eram, no momento, abaixo-assinados. O rigor mandaria 
que primeiro assinassem e só depois lessem ou dissessem o compromisso. Ou, então, fosse alterada a expressão “eu, abaixo-assinado”, para “eu, que abaixo assinarei.” Isto é uma coisa simples que qualquer criança anotará sem expor ninguém à chacota, mas sim ao rigor das palavras e à sequência dos actos. As cerimónias foram vistas por milhões de portugueses através da televisão e merecem 
o máximo do rigor, não sendo admissível que antes de iniciar as suas funções os empossados sejam menos verdadeiros, dizendo-se abaixo-assinados quando ainda nada assinaram» (João José Edward Clode, «Cartas à directora», Público, 1.12.2015, p. 44).

      Rigor paranóico, isso sim. Rigor necessário: não se escreve, João José Edward Clode, «eu, abaixo-assinado» — equivalente de «eu, cujo nome aparece abaixo assinado» —, mas sim «eu, abaixo assinado», se for homem; «eu, abaixo assinada», se for mulher. O documento em que se exprime a opinião de um grupo ou representa os interesses das pessoas que o assinam é que é um abaixo-assinado. Promete que neste não volta a cair?

 

[Texto 6440]

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