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Linguagista

Léxico: «assacar»

Jornalistas e juízas

 

      «Aparentemente, a Eduardo Santos Silva — ao qual são assacados 22 crimes, incluindo o de associação criminosa e exercício ilícito de segurança privada —, nem sequer interessava muito este desporto» («FC Porto contratou serviços de segurança a empresa que estava impedida de os prestar», Ana Henriques e Mariana Oliveira, Público, 6.01.2016, p. 13).

      Acho que a última vez que li o verbo assacar na imprensa foi em 1932, na leitura pós-prandial do meu matutino então preferido. Estou a brincar. Só há um problema, Ana Henriques e Mariana Oliveira: no vosso artigo, foi muito mal usado. Assacar é atribuir (crime, erro, mau comportamento, falha) injustamente; imputar aleivosamente; caluniar. Não dou, porque ninguém mos pede, conselhos, mas o que digo é que os artigos a quatro mãos têm sempre mais, e mais graves, erros.

 

[Texto 6526]

Etimologia: «cadete»

Onde estudam os cadetes?

 

    «Dois alunos do curso 
fuzileiros da Marinha que estam [sic]* desaparecidos desde domingo à noite, [sic] foram encontrados ontem à tarde “bem”, disse à agência Lusa
 o porta-voz da Marinha, o comandante Paulo Vicente.
 O oficial adiantou que os
 dois cadetes “perderam-se e desorientaram-se” no decorrer de um exercício, tendo sido encontrados pelas equipas de busca que estavam no terreno desde segunda-feira à tarde» («Cadetes dos fuzileiros perdidos durante quase dois dias», Público, 6.01.2016, p. 13).

      De quando em quando, é bom voltar à etimologia. Cadete, que aqui designa o aluno que frequenta uma escola militar, vem do francês cadet, que os dicionários, em geral, dizem significar «irmão menor». Começou por ser o filho não primogénito de famílias nobres, e, depois, por extensão de sentido, o filho segundo em geral. O étimo do termo francês é, por sua vez, o latino capitellum (mas há autores que afirmam que provém do baixo latim capitetum, de que o vocábulo «capitão» se mostra próximo), que teve no dialecto gascão duas formas, capdet e cabdet.

   Não é, porém, tudo. Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, cadete é o «aluno que cursa uma escola superior militar»; para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, é o «aluno da Academia Militar e da Escola Naval; aluno que frequenta os cursos de oficiais milicianos, durante o tempo de instrução»**. No meio disto, onde fica a Escola de Fuzileiros? Não precisará a definição de ser afinada?

 

[Texto 6525]

 

* Estam por estão mostra bem como os jornalistas do Público compulsam com mão diuturna a obra maior do nosso grande épico.

* A definição do Grande Dicionário Sacconi é quase a fusão daquelas duas, pois diz que é o aluno de escola militar superior, acrescentando que é a do Exército e a da Aeronáutica. Estará correcto?