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Linguagista

«O facto de» e outras coisas

Quase ornamento e símbolo

 

      «O uso generalizado de ecocardiogramas e o desenvolvimento de aparelhos de ecografia que cabem no bolso estão a pôr em causa o facto de os médicos continuarem a andar com auriculares e um tubo de borracha à volta do pescoço» («Dois séculos depois, é tempo de tomar o pulso a um ícone da medicina: estetoscópio», Lenny Bernstein, Público, 7.01.2016, p. 26).

      Só pode ser espúrio, aquele «o facto de», cada vez mais usado, e não pelos analfabetos. Vejamos o que diz o original: «The widespread use of echocardiograms and the development of pocket-size ultrasound devices are raising questions about why doctors and others continue to sling earphones and rubber tubing around their necks.» O artigo, contudo, é muito interessante. Ficamos a saber — os dados são todos relativos aos EUA, mas extrapoláveis — que os médicos não sabem usar o estetoscópio, ou poucos, e cada vez menos, o sabem fazer. Nisto, não diferem dos falsos médicos, imagino. Ficamos também a saber que um professor associado de Pediatria, William Reid Thompson, coligiu milhares de sons cardíacos — «tum-tuns, cliques, galopes e sopros produzidos pelo coração humano» («lub-dubs, clicks, gallops and whooshes produced by the human heart») — e criou um sítio, MurmurLab-org, em que os podemos ouvir e aprender a distinguir. Infelizmente, mais uma vez, o Público não indica quem fez a tradução, um péssimo hábito que ninguém agradece.

 

[Texto 6530]

A triste mania das aspas

Cordões sanitários

 

   Horas depois de o líder trabalhista britânico ter anunciado uma remodelação no “governo-sombra” para afirmar a sua autoridade, as divisões no partido voltaram a falar mais alto. Três membros da equipa demitiram-se em protesto contra o afastamento das vozes mais críticas a Jeremy Corbyn. […] A mesma justificação foi avançada para a saída do “ministro-sombra” da Cultura, Michael Dugher, que será substituído na pasta pela até aqui porta-voz para a Defesa, Maria Eagle. […] A demissão de Benn arriscava provocar o êxodo dos centristas do “governo-sombra”, mas só terá ficado depois de aceitar que, quando estiver em desacordo com Corbyn, terá de assumir a sua posição a partir das bancadas no Parlamento reservadas aos deputados sem funções de liderança» («Corbyn tenta travar divisões no Labour», Ana Fonseca Pereira, Público, 7.01.2016, p. 25).

    Ainda um dia nos tem de explicar, Ana Fonseca Pereira, porque escreve entre aspas as palavras assinaladas. Tenho a certeza de que será muito instrutivo e pedagógico.

 

[Texto 6529]