«O facto de» e outras coisas
Quase ornamento e símbolo
«O uso generalizado de ecocardiogramas e o desenvolvimento de aparelhos de ecografia que cabem no bolso estão a pôr em causa o facto de os médicos continuarem a andar com auriculares e um tubo de borracha à volta do pescoço» («Dois séculos depois, é tempo de tomar o pulso a um ícone da medicina: estetoscópio», Lenny Bernstein, Público, 7.01.2016, p. 26).
Só pode ser espúrio, aquele «o facto de», cada vez mais usado, e não pelos analfabetos. Vejamos o que diz o original: «The widespread use of echocardiograms and the development of pocket-size ultrasound devices are raising questions about why doctors and others continue to sling earphones and rubber tubing around their necks.» O artigo, contudo, é muito interessante. Ficamos a saber — os dados são todos relativos aos EUA, mas extrapoláveis — que os médicos não sabem usar o estetoscópio, ou poucos, e cada vez menos, o sabem fazer. Nisto, não diferem dos falsos médicos, imagino. Ficamos também a saber que um professor associado de Pediatria, William Reid Thompson, coligiu milhares de sons cardíacos — «tum-tuns, cliques, galopes e sopros produzidos pelo coração humano» («lub-dubs, clicks, gallops and whooshes produced by the human heart») — e criou um sítio, MurmurLab-org, em que os podemos ouvir e aprender a distinguir. Infelizmente, mais uma vez, o Público não indica quem fez a tradução, um péssimo hábito que ninguém agradece.
[Texto 6530]