Mesóclise, uma hiperdiferenciação?
Maminhas e mesóclise
A Kardashian mais nova, Kendall Janner, anda bem lançada no mundo e a fazer o que provavelmente melhor saberá fazer: mostrar as maminhas. Até aqui, tudo perfeito, pois também Camões disse da mulher de Neptuno: «Que o corpo cristalino deixa ver-se,/Que tanto bem não é para esconder-se» (Lus., VI, 21). Acontece que a Kendallzinha recebeu um «gosto» no seu Facebook (por agora, só aqui) do nosso CR7 e, embeiçada, quer encontrar-se com o rapaz. Ofuscado com os patentes atributos da rapariga, um jornalista da Bola esqueceu-se da mesóclise: «“Faria-o sem qualquer dúvida”, afirmou uma fonte próxima da modelo, em declarações reproduzidas pelo Hollywood Life.» E não vimos já assistentes universitários, de Letras!, estatelarem-se no mesmo erro? Pouco intuitivo e mesmo arcaizante, quase apenas de uso literário, está destinado a desaparecer. Como desapareceu noutras línguas, como o castelhano, o catalão, o provençal. Perdida já a noção de que são, na verdade, duas formas verbais, infinitivo + haver — explicar lhe hei —, é uma questão de tempo. Condenado porque tão idiossincrático como a consoante geminada com ponto elevado do catalão, l·l. Il·lustríssims. Isto não se faz...
[Texto 6575]