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Linguagista

É o esquisito «CoCo»

Não é o fruto do coqueiro

 

      «Depois, acabou por lançar um dado novo para cima da mesa: O Banco de Portugal não deu a necessária luz verde para o Banif devolver os últimos 125 milhões que o banco ainda devia de capital contingente (os chamados Cocos) porque isso iria debilitar o balanço do banco» («Carlos Costa diz que Governo desencadeou resolução do Banif», Cristina Ferreira com Luís Vilallobos, Público, 30.01.2016, p. 7).

      Coco, cocó, CoCo — qual dos três é que acham que se adequa? É o último, e vem do inglês contingent convertible bonds. Está definido no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «ECONOMIA instrumento financeiro emitido por uma instituição de crédito e em que uma obrigação é convertida automaticamente em acção, quando se verifica uma situação previamente definida contratualmente.» Claro que de português isto não tem nada, pois não temos abreviaturas assim.

 

[Texto 6582]

«Roto/rompido»

Os molambentos

 

      «Hospitais vão receber cerca de 5000 euros para tratar cada aneurisma roto» (Romana Borja-Santos, Público, 30.01.2016, p. 12).

    Está bem, mas já tenho lido a forma, que me parece completamente anómala, «aneurisma rompido». Rompido é particípio; roto é usado como adjectivo, que, naturalmente, pode ser substantivado — Ri o roto do esfarrapado. Ou — versão para o Brasil — É o roto que empresta ao molambento. Esperava, confesso, encontrar aqui algo como isto: «Hospitais vão receber cerca de 5000 euros para tratar cada ruptura de aneurisma».

 

[Texto 6581]

Léxico: «contactante»

Termo brasílico?

 

      «O telefonema que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes recebeu via 112 mencionava um desmaio. “Segundo o contactante, que não se encontrava junto da vítima, esta estava a deitar sangue pela boca”, relata o Instituto Nacional de Emergência Médica» («Aluna de 11 anos morre após paragem cardíaca na escola D. Pedro IV de Sintra», Clara Viana e Ana Henriques, Público, 30.01.2016, p. 15).

    Ao que me parece, é a primeira vez que... entro em contacto com contactante. Provavelmente só está registado em dicionários publicados no Brasil. «Aquele ou aquilo que contacta ou contata». Saber que contactante é o que contata é que nos deixa um tudo-nada desmoralizados, não é?

 

[Texto 6580]

Ortografia: «subartigo» e «pseudo-empírico»

Não há ciência, mas arte

 

      «Alexandra Prado Coelho (APC) é
 uma pessoa e jornalista que admiro/ respeito. O seu artigo, “Dieta: Há Alguma Ciência Nisto?”, parece apressado,
pouco reflectido. Divide-se em dois sub-artigos, um sobre Portugal e o outro
sobre as Recomendações Alimentares norte-americanas 2015-2020. Neste segundo sub-artigo, APC ocupa 60%
 com a divulgação das críticas a estas Recomendações Alimentares, dos quais, ocupa mais de metade a denunciar uma mudança de posição em relação ao consumo de colesterol (ovos). […] Concordo com a crítica do editorial
 do PÚBLICO às campanhas avulsas, de base pseudo empírica (uma praga) e não raras vezes influenciadas pelos interesses dos vários lobbies alimentares. Substituí empírica por pseudo empírica; a ciência médica actual é essencialmente de
 base empírica e ainda pouco científica/ racionalista» («Sim, as Recomendações Alimentares têm base científica. Mas podem e devem ser melhoradas», Óscar Mota, Público, 30.01.2016, p. 52).

    Médico internista aposentado... Está bem. Sr. Dr., se se escreve subabdominal — esta há-de conhecer —, como é que se podia escrever «sub-artigo»? E pseudo- é um elemento de formação de palavras, não pode andar por aí solto como um cão vadio. Pseudo-empírico.

 

[Texto 6579]

Tradução: «wishful thinking»

Em inglês, para perceberem

 

      «As mesmas vozes da desgraça que antes gritavam “the Reds are coming!”, são as que agora os veem moribundos e, por
isso, raivosos: “declínio definitivo” do PCP e Bloco reforçado levará a “exigências inaceitáveis” e à rutura! Chama-se a isto wishful thinking: ler na realidade o que se quer que a realidade seja» («Profecias políticas», Manuel Loff, Público, 30.01.2016, p. 53).

     Para todos os leitores do Público compreenderem, nada como estar em inglês. Esqueçamos os vermelhos. Quando a wishful thinking, é muitas vezes traduzido por «pensamento ilusório». «Claro que é um pensamento ilusório» (Amor e Matemática, Edward Frenkel. Tradução de Carlos Szlak. Lisboa: Casa das Letras, 2015, p. 148). Of course, this is wishful thinking.

 

[Texto 6578]