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Linguagista

Sobre «fazenda»

Por uma fazenda em Portugal

 

   «Pancho Guedes tinha 500 obras construídas, frisa à Sábado o arquitecto amigo Pedro Ressano Garcia. Mas não foi por isso que reputadas revistas especializadas internacionais assinalaram a sua morte, no dia 7, aos 90 anos, na fazenda da filha, na África do Sul, chamando-lhe “um dos mais importantes da arquitectura africana”» («Pancho Guedes (1925-2015)», Dulce Neto, Sábado, 12.11.2015, p. 34).

      É curioso como a palavra fazenda é sempre usada apenas quanto a propriedades lá longe, África do Sul, Brasil... Em Portugal não há grandes propriedades rurais, de exploração agrícola e pecuária? É uma palavra interessante. Começou por ser, em latim, meramente as coisas que devem ser feitas, facienda, um particípio futuro passivo, como muitos outros que ainda temos na nossa língua. Em alguns casos, perdeu-se a noção, como em agenda, legenda, moenda, oferenda, prebenda, memorando, venerando... Noutros casos, porém, essa ideia de futuro permanece de alguma maneira, como em educando, formando, graduando, bacharelando, licenciando, doutorando, professorando... No Brasil, mais criativos e exagerados, inventaram termos como vestibulando, agronomando, farmacolando, odontolando... Estão a ver a ideia? Pois.

      «Voltem agora o passeio, e mudem de rumo cá para a Estremadura; e já que são os melhoradores das nações, os pregadores da agricultura, como o nervo mais rijo e mais seguro dos Estados, olhem bem para essa fazenda, ou quinta, que lhes fica à direita, extensíssima propriedade!» (Os Frades, ou Reflexões Filosóficas sobre as Corporações Regulares, José Agostinho de Macedo. Lisboa, 1830, pp. 20-21).

 

[Texto 6615]