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Linguagista

Tradução: «fan heater»

Só uma palavra, e aquece o mesmo

 

   «Apesar das garantias dos funcionários de que a temperatura não tardaria a aumentar, o espaço parecia estar a ficar gradualmente mais frio e acabaram por me trazer um aquecedor com ventilador para ajudar» (100 Coisas Essenciais Que Não Sabia Que não Sabia, John D. Barrow. Tradução de Rita Figueiredo. Lisboa: Livros Horizonte, 2013, p. 70).

   No fundo, um fan heater é isso mesmo — mas não é a palavra termoventilador que usamos habitualmente? Só uma palavra e diz o mesmo. (A propósito, este fim-de-semana vou comprar um termoventilador cerâmico.) Nem o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora nem o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa a registam.

 

[Texto 6632]

«Erro tipográfico»?

Não é modéstia

 

      «Um dos examinadores tinha encontrado 32 erros tipográficos na tese (naquela altura não havia processadores de texto e aos [sic] corretores ortográficos*). O outro examinador tinha encontrado 23» (100 Coisas Essenciais Que Não Sabia Que não Sabia, John D. Barrow. Tradução de Rita Figueiredo. Lisboa: Livros Horizonte, 2013, p. 22). É curioso — e, mais propriamente, uma maldição — que uma frase sobre erros tipográficos tenha uma gralha. E «erro tipográfico» é claramente eufemismo, quando não... erro. Não seriam erros, de ortografia, sintaxe, etc.? E prossegue: «A pergunta era: quantos mais haveria que não tinham sido encontrados por nenhum deles? Ao fim de algum tempo a analisar várias folhas de papel, concluiu-se que 16 erros tinham sido encontrados por ambos os examinadores.»

 

[Texto 6631]

 

      * Está assim no original: «word-processors and schpel-chequers» — palavra, esta última, que eu nunca antes vira.

«Nuvem», uma acepção de todos os dias

Deixe-se disso

 

      «Segundo a juíza Sheri Pym, do Tribunal Distrital para o Distrito Central da Califórnia, a empresa tem de ajudar mais as autoridades — cumprindo as suas obrigações, a Apple entregou tudo o que o atacante tinha guardado no iCloud, um serviço onde é possível gravar fotografias e outro tipo de documentos fora do telemóvel, na chamada “nuvem”» («Desbloquear iPhone de terrorista teria implicações “arrepiantes”», Alexandre Martins, Público, 18.02.2016, p. 22).

      Então conte lá, Alexandre Martins: para que pôs o cordão sanitário das aspas à volta da palavra? É um neologismo, sim, mas uma acepção como qualquer outra, e já acolhida nos dicionários, que se ouve todos os dias.

 

[Texto 6630]

Mais treze línguas

Venham de lá mais

 

   Costumo seguir um blogue sobre tecnologia, o Aberto até de Madrugada. Hoje, o autor escreveu que o Google Translate já traduz 103 línguas. «O último lote passa a incluir 13 novas línguas que são (e não me arrisco a traduzir os seus nomes para português): Amharic, Corsican, Frisian, Kyrgyz, Hawaiian, Kurdish (Kurmanji), Luxembourgish, Samoan, Scots Gaelic, Shona, Sindhi, Pashto e Xhosa.» Arriscamo-nos nós: amárico, córsico, frísio (ou frisão), quirguiz, havaiano, curdo (ou curmânji), luxemburguês, samoano, gaélico escocês, xona, sindi, pastó e xosa.

 

[Texto 6629]

Como nos tratam os juízes

A era do vazio

 

      «Não estão cumpridos os “requisitos de imparcialidade objectiva e subjectiva” da juíza. É isto que defende o advogado de Bárbara Guimarães[,] que hoje apresenta um requerimento no qual pede a recusa da juíza Joana Ferrer, que está a julgar Manuel Maria Carrilho por um crime de violência doméstica. Um pedido idêntico foi entregue também pelo Ministério Público (MP), ontem, “por considerar existir motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a imparcialidade da magistrada judicial”, informou a Procuradoria-Geral da República» («Bárbara Guimarães pede recusa da juíza», Andreia Sanches, Público, 18.02.2016, p. 11).

   Toma! Alguém tem de pôr os juízes na linha. Compare-se: «Ó Bárbara, causa-me nervoso ver mulheres informadas a reagirem assim. Se tinha fundamento, devia ter feito queixa.» «Sabe, Senhor Professor, os juízes também fazem trabalho de casa. Fui ler o prefácio que escreveu para o livro de Gilles Lipovestky. Fiquei a saber que é um homem bem-falante, capaz de articular. Quer falar dos factos que aqui o trazem?» É como se tivesse aterrado na véspera no planeta Terra: foi ver como escrevia um ex-ministro da Cultura. Em rigor, não ficou a saber se era ou não bem-falante, porque isso é do domínio da oralidade, e, que eu saiba, A Era do Vazio não é um audiolivro. Mas está bem. E, por outro lado, a edição daquele livro é de 2013, e em muito menos tempo qualquer pessoa pode ficar desarticulada e até, mas é mais raro, malfalante. Disse.

 

[Texto 6628]

Plural de «totem»

Outros perigos

 

      «É por isso que os postes elétricos parecem sempre grandes totens ao deus de todos os triângulos» (100 Coisas Essenciais Que Não Sabia Que não Sabia, John D. Barrow. Tradução de Rita Figueiredo. Lisboa: Livros Horizonte, 2013, p. 16).

      A primeira coisa que se tem de saber sobre esta palavra é que tem duas variantes, totem e tóteme. O plural da primeira é, de facto, totens (como item → itens; tom → tons; afim → afins, etc.). No entanto, para o Vocabulário Ortográfico Português, do ILTEC, o plural de «totem» é... tótemes. Na realidade, este é o plural da variante «tóteme». Talvez interpretassem mal o que Rebelo Gonçalves escreveu no seu Vocabulário da Língua Portuguesa. Vamos então assinalar este ponto com o símbolo adequado: ✗. Ou não o adequado, mas o que tenho à mão. Adequado seria piso escorregadio ou outros perigos.

 

[Texto 6627]