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Linguagista

Tradução: «shale oil»

Um erro consagrado?

 

      «“O verdadeiro valor das coisas é o esforço e o problema de as adquirir.” A frase com mais de 200 anos, do economista Adam Smith, autor de a A Riqueza das Nações, serve na perfeição para explicar
o porquê de tão abrupta queda
do preço do petróleo. Com a forte aposta dos EUA e do Canadá em desenvolver a exploração das rochas de xisto betuminoso, o mercado foi inundado de petróleo e os tradicionais produtores, como a Arábia Saudita, Nigéria ou Argélia, tiveram de se virar para outros mercados, como o asiático, e o preço da matéria-prima veio por aí abaixo» («A riqueza das nações», Público, 31.01.2016, p. 68).

      Lembram-se muito bem: já vimos aqui as duas primeiras frases deste editorial do Público, por causa do erro de tradução. Retomo o editorial, mas não este erro. Agora, o que me interessa é a designação — também errada — xisto betuminoso. Dizia-me ontem, na Universidade Fernando Pessoa, onde fui falar do meu livro e da língua, o Prof. Lemos de Sousa, o nosso grande (único?) especialista em Petrologia, que esta designação é errónea, pois nem é xisto nem betuminoso. Muito atreitos a copiar os outros, achámos que os Franceses tinham razão ao chamar-lhe schiste bitumineux, que eles supuseram traduzir bem a designação inglesa shale oil. Não traduz. Neste erro não incorre apenas o Público, ou a imprensa em geral, mas os próprios especialistas. Já os Brasileiros só erram metade, pois optaram pela designação (embora não aceite por todos os especialistas) folhelho betuminoso. Mas, se quisermos evitar um erro grosseiro, encontraremos outras designações adequadas.

 

[Texto 6642]

«Missa ecuménica»?

E não há sinónimos?

 

      «Marcelo Rebelo de Sousa vai participar numa missa ecuménica na Mesquita de Lisboa na tarde de 9 de Março, dia em que toma posse como Presidente da República, sabe o PÚBLICO. A iniciativa, inédita em Portugal, está a ser organizada para assinalar a sua posse e tem como objectivo chamar a atenção para a necessidade de entendimento entre religiões e culturas» («Marcelo participa em missa ecuménica na Mesquita de Lisboa no dia da posse», São José Almeida, Público, 23.02.2016, p. 6).

      Se é ecuménica, talvez não seja missa, não é? É, pelo menos, uma visão cristianocêntrica, o que acaba por contradizer o ecumenismo. Vejamos o que, sobre esta questão, se lê no livro de estilo do Público: «Também é imprópria a expressão “dizer missa”. A missa (ou eucaristia) é rezada ou celebrada. “Missa” designa a principal liturgia católica; nas outras igrejas ou religiões, deve falar-se de liturgia, culto, oração ou outra expressão mais específica.» «Imprópria», a expressão «dizer missa»? Estão enganados.

 

[Texto 6641]

Léxico: «stop over»

O mundo em inglês

 

      «A ideia é usar a paragem em Lisboa (o chamado “stop over”, que corresponde ao tempo de ligação entre dois voos com mais de 24 horas de diferença) para que os passageiros visitem a cidade» («TAP reforça aposta nos EUA e Marrocos», Raquel Almeida Correia e Patrícia Carvalho, Público, 23.02.2016, p. 17).

     Graças a estas lições, estamos agora preparados para ir para o negócio da aviação. Alguns passageiros nem sequer saem* do aeroporto. Ainda ontem, às 11 da noite, vi uma stopoverista lá acampada, com uma criança ao colo.

 

[Texto 6640]

 

 

* E não, como vejo demasiadas vezes para manter a sanidade, *saiem. Como também está incorrecto *caiem e *constroiem. E porque é que estão erradas? Ora, porque sim, dir-se-á — ainda que, pela pronúncia e por analogia com o infinitivo, parecesse que deviam ser grafadas com i. Ou não? E, no entanto, as únicas formas correctas são as que não têm a vogal eufónica.