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Linguagista

Léxico: «cafre»

Há aí confusão

 

      Ando agora interessado, porque estou a rever uma obra relacionada com o assunto, em tudo o que diga respeito à Síria, e em especial termos religiosos. Fui por isso parar a este artigo do Público: «“Quem estiver nas fileiras dos kufr [descrentes] será alvo das novas espadas”, escreve o grupo no vídeo, mostrando imagens das ruas de Londres e da sessão parlamentar britânica em que se aprovaram os bombardeamentos na Síria. “Estamos presentemente a examinar este último vídeo de propaganda do Daesh [termo em árabe para o Estado Islâmico], uma outra jogada desesperada de um terrível grupo terrorista claramente em declínio”, declarou um porta-voz do Governo britânico» («“Nada nos assustará”, diz Hollande sobre novo vídeo do Estado Islâmico», Público, 26.01.2016, p. 25).

      Contudo, kufr é infidelidade, descrença; kuffār (no singular, kāfir) é que são os descrentes. É desta que vem o nosso cafre, palavra que, a propósito, anda muito mal explicada nos dicionários. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora garante-nos que há uma língua cafre, o que não corresponde à verdade. Aliás, até o sentido figurado não está correcto. Também o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa nos diz que existe tal língua, falada na Cafraria. Como conselheiro do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, procurarei que este e outros verbetes sejam corrigidos para a próxima edição do dicionário.

 

[Texto 6648]