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Linguagista

Léxico: «bistrô»

Sempre que possível

 

      Ateliê, brevê, dossiê, palmiê, robô, tabliê... O melhor é fugi-las, sim — quando é possível, o que não acontece em todos os casos. Bistrô, por exemplo, parece-me escusada, mas nem por isso prescindem dela no Brasil, sobretudo. E, por vezes, cá: «Um bistrô que tem tantas antiguidades como a casa de uma avó, mas que é novinho em folha. Quem vive junto à Rua da Madalena, em Lisboa, já sabe: quando toca o sino, vale a pena apressar-se. Quer dizer que acaba de sair uma fornada de croissants artesanais [na Fábrica Lisboa]» («Lanchar como antigamente», Marlene Rendeiro, TSF, 4.03.2016). E falta saber se a designação se adequa. Um bistrot é um cafezinho ou um restaurantezinho simpático e modesto.

 

[Texto 6669]

Verbo «pôr», depois dos últimos estertores

Quem diria!

 

      O P.e Tolentino Mendonça é consabidamente um dos mais estimáveis poetas portugueses contemporâneos, mas também crava pregos no caixão do verbo pôr que até nos faz doer a alma. «Dou dois exemplos, culturalmente distintos, mas suficientemente incisivos para nos colocar a pensar» («O céu e o inferno», «Revista E»/Expresso, 5.03.2016, p. 90).

 

[Texto 6668]

Estão a tempo de corrigir tudo

Museu da Farmácia do Porto

 

      E a propósito de símbolos e confusões, lembrei-me do caduceu (☤) de Hermes e do bastão de Asclépio, logo, da farmácia e da medicina. No mês passado, visitei o Museu da Farmácia do Porto. Gostei do acervo, não propriamente vasto, mas significativo. (A farmácia islâmica, adquirida recentemente, já a conhecia de várias reportagens, nomeadamente desta.) O pior — e fi-lo saber por correio electrónico aos responsáveis* — é a forma como estão escritos os painéis. Em muitos, muitos casos, uma vírgula separa o sujeito do predicado! Dois exemplos: «O mundo do Egipto antigo, era habitado por espíritos [...].» «O médico grego, tinha ao seu dispor […].» Gralhas, há-as em abundância, até em nomes próprios: ele é Issac Newton, ele é Disocórides, etc. Inadequação vocabular, o malfadado «para além de», etc. Se têm respeito pelos visitantes — que, afinal, pagam —, corrijam tudo. Claro que não pode ser o autor (autora, sei-o agora) a fazê-lo, mas um profissional, de preferência um revisor.

 

[Texto 6667]

 

 

      * Claro que não agradeceram — respingaram! Estão, no entanto, no sítio certo para tomar um calmante.

O símbolo ℞

Semelhante, mas não o mesmo

 

      Em certos blogues (como neste) e guias (como neste), diz-se que o símbolo de receita é Rx. Ora, isto confunde-se facilmente com RX, de raios X. Não, o símbolo é ℞, ou seja, um r cortado por um x. Teorias sobre a sua origem há várias, mas eu prefiro a que diz que é a abreviatura da palavra latina recipe. No entanto, faz sentido a que diz que era o símbolo egípcio do olho de Hórus, pois que a Igreja Católica, que se impôs em todos os domínios da sociedade, cristianizou o símbolo em RR, dando-o como invocação ao arcanjo Rafael (responsum raphaelis), pois Rafael vem do hebraico Rephael, algo como «Deus o curou» ou «medicina de Deus».

 

[Texto 6666]

«Encarniçamento terapêutico» e etc.

Tanatos sem Eros

 

   «Este não será um caso de eutanásia, mas sim de rejeição de encarniçamento terapêutico (distanásia), frisou o presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, confrontado pela RTP» («Médico reputado diz que assistiu a casos de eutanásia em hospitais», Alexandra Campos, Público, 6.03.2016, p. 60).

   Grande choque, revelar o que toda a gente já sabia... E nos dicionários? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista distanásia, mas não a expressão encarniçamento terapêutico. Acolhe também os termos eutanásia e ortotanásia. De todos estes termos, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa só acolhe «eutanásia».

 

[Texto 6665]