Rua acima, rua abaixo
Diz o fotojornalista João Garcia: «Do ponto de vista profissional, não. Sou um foot soldier — um soldado raso — que acredita na sua missão» («“O salvo-conduto que nos era dado pela profissão não existe mais”», João Pedro Pereira, Público, 16.04.2016, p. 29).
João Garcia, como luso-sul-africano, há-de ser um perfeito bilingue, mas será que a foot soldier equivale o nosso soldado raso? Pelo que vejo, foot soldier é o soldado de infantaria. E que dizem os nossos dicionários sobre «soldado raso»? Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é o «militar que ocupa o posto mais baixo da hierarquia do Exército ou da Força Aérea»; para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, é o «soldado que não tem habilitações para outra gradução». Falta, a ambos, o sentido figurado, usado todos os dias. Mas sim, foot soldier também é — além da prostituta que perambula rua acima, rua abaixo1, em busca de clientes, na gíria — «a person likened to an infantryman especially in doing active and usually unglamorous work in support of an organization or movement».
[Texto 6750]
1 E a propósito, ouçam aqui Alcino Teles do Fundo cantar Rua acima, rua abaixo. Curioso o uso, como em muitas canções populares, do mais-que-perfeito simples.