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Linguagista

«Dinheiro vivo»

É tara

 

     «A primeira das três escolhidas é o “pOw | Paga ao Estado”, “uma carteira digital que substitui o dinheiro-vivo” e que permite “a qualquer pessoa receber as notificações de pagamento, multas e facturas pelo telemóvel, e pagar logo, calendarizar o pagamento ou criar alerta”» («Simplex 2016 permite aos cidadãos avaliarem online os serviços públicos», São José Almeida, Público, 19.05.2016, p. 5).

    Não podem ver duas palavras juntas que não as amarrem logo com um tracinho. É tara. Dinheiro vivo, ou seja, moeda metálica ou papel-moeda.

 

[Texto 6822]

Léxico: «bench fees»

Não me parece

 

      «No caso, a instituição parceira era a Universidade do Texas, onde o agora ministro passou três meses no primeiro ano de doutoramento. No caso dos bolseiros que fazem uma parte da sua investigação no estrangeiro, o que a FCT financia não são propinas, mas as chamadas bench fees, destinadas a cobrir despesas em laboratório» («FCT afasta ilegalidades com bolsa de estudo do ministro da Educação», Samuel Silva, Público, 19.05.2016, p. 10).

      Despesas de laboratório? Isso é uma tentativa de tradução? Não é o que se lê no sítio da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Na verdade, são «todas as despesas necessárias à formação do bolseiro exigidas pela instituição académica».

 

[Texto 6821]

Léxico: «jammer»

Diabo da tecnologia

 

      «O grupo suspeito de ter sequestrado e matado um empresário de Braga há dois meses usaria equipamento sofisticado para despistar a polícia, designadamente um inibidor de sinal GPS. O aparelho gera um campo electromagnético que bloqueia as comunicações móveis, incluindo o GPS dos telemóveis que permite a sua localização. Também conhecido por “jammer”, já foi antes referenciado pela polícia por, noutros casos, ter impedido que os localizadores GPS de automóveis roubados funcionassem» («Grupo usava aparelho para despistar a polícia», Pedro Sales Dias e Mariana Oliveira, Público, 19.05.2016, p. 13).

    Para estes casos é que não há alternativa: temos de usar o termo original. Jammer, então. Ou será que há? No Brasil, dá-se-lhe o nome de capetinha ou chupa-cabra.

 

[Texto 6820]

Carteiristas entre aspas

Deus da tecnologia

 

      «Joaquina Gonçalves, 85 anos, assumiu ontem a sua condição de viúva no julgamento pelo furto de uma carteira no desfile da Queima das Fitas, que decorreu no tribunal de pequena instância criminal, no Porto. A idosa, com duas condenações pelo mesmo crime, não se cansou de clamar por inocência. “Que Deus me mate. Que me pare a pilha do coração!”, desabafou em tribunal, depois de chamar mentirosos aos agentes que a incriminaram» («À terceira, Ministério Público pediu prisão suspensa para “carteirista” de 85 anos», Mariana Oliveira, Público, 19.05.2016, p. 13).

      É a melhor imprecação dos últimos anos: «Que me pare a pilha do coração!» E as aspas do título, Mariana Oliveira? Deve ser porque foi pedida somente pena suspensa. Assim, é apenas «carteirista» e não, mais ofensivamente, carteirista.

 

[Texto 6819]