Assim não, senhores
«Por outras palavras, um conjunto de superestrelas, avaliado em 477 milhões de euros, perdeu com uma equipa de quase-anónimos, avaliada em 45 milhões (dados do sítio Transfermarkt)» («Adeus[,] Inglaterra: a epopeia da Islândia tem um novo capítulo», Rui Marques Simões, Diário de Notícias, 28.06.2016, p. 46).
Reconheço: no Acordo Ortográfico de 1990 nada encontramos sobre os elementos de composição não- e quase-, como também nada encontramos sobre a questão no Acordo Ortográfico de 1945. Nem tudo se podia prever, bem sabemos, mas não deixa de ser mais um erro na elaboração das novas regras ortográficas. Assim, a tentação para dizer que, se não está proibido, então é permitido é muito grande, mas, na verdade, a minha interpretação é a de que o espírito do acordo vai nesse sentido. Foi também o que fez, para estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo, a Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Associação Brasileira de Letras (ABL) na 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. O pior é que, ao mesmo tempo que se interpreta o texto do AO90 desta maneira, acolherem-se — por lapso? — formas em que aparece o hífen. Não pode ser. Se com o elemento quase- não há muitas ocorrências, com o elemento não- são infindáveis, e as trapalhadas são muitas.
[Texto 6910]