Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Por favor, falem com ele em japonês

Ajudem o pobre rapaz

 

      Hoje interessei-me por este caso. (Porque o Homem, aprendi também hoje, é neofílico. Neofílico... Os dicionários de língua portuguesa desconhecem, até porque há-de vir do inglês neophiliac — «one who loves new things, novelty» —, embora tenhamos «neofilia».) Debaixo do arco da Rua Augusta.

 

[Texto 6950]

 

Japonês.jpg

Como se escreve por aí

Como TPC

 

      «Não há noivo? Mulheres casam-se com elas próprias» (Diário de Notícias, 11.07.2016, p. 20). Como dirá Montexto, mais um mimo do português qual hoje o vês. O que as mulheres podem fazer é casar-se consigo próprias. São casos extremos, porque normalmente ou casam-se com eles, ou com elas ou ficam solteiras. Atarantado com o caso, o jornalista falhou a gramática — e agora já é tarde.

 

[Texto 6949]

Tradução: «spotter»

Objecto de estudo

 

      «A chegada da polícia de trânsito e dos spotters indiciava que a chegada dos craques estava próxima. O relógio marcava 13h06 quando dois autocarros panorâmicos chegaram junto de uma massa humana ansiosa 
por acenar aos novos campeões 
da Europa» («Lisboa parou para saudar selecção “Nação Valente”», Diogo Cardoso Oliveira e Leonete Botelho, Público, 12.07.2016, p. 3).

   Ultimamente, Nuno Pacheco, director adjunto do Público, escreve muito sobre o abuso de termos estrangeiros, e sobretudo ingleses. Toma por objecto da sua análise, a que não falta, sem dúvida, justeza, o próprio jornal para que trabalha. Neste caso concreto, o leitor médio não sabe o que significa a palavra. Nem uma pista lhe é dada. Pode dizer-se que a palavra é imprescindível? Vamos supor que sim. Ora, nem por isso devia ser usada sem ser explicada, como fazem, e bem, no Diário de Notícias: «Os seis elementos da PSP e dois da GNR que compõem a delegação portuguesa são “experientes na área do policiamento desportivo” e desempenham funções de spotters (agentes que acompanham os adeptos) em Portugal, disse, sublinhando que fazem também parte desta missão polícias especializados em matéria de informações na prevenção da violência associada ao desporto» («PSP e GNR com licença para atirar para proteger seleção em França»).

 

[Texto 6948]

Léxico: «sericaia/sericá»

Emendem-se

 

      Ontem comi sericaia, o que não acontecia há muitos anos. Desta vez, sem ameixa. E quanto aos dicionários? Uma tristeza! Lê-se no verbete sericaia no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «iguaria muito fina, da Índia». E lá vem o étimo, o malaio srikaya. Iguaria da Índia... Há séculos que se diz que é um doce ou pudim* alentejano, da zona de Elvas. Sim, há essa palavra do malaio, srikaya, assim como na Indonésia se faz um pudim a que chamam serikaja — não se sabe é se os navegadores levaram ou se trouxeram a receita e o nome. É, pois, lamentável que o nosso principal dicionário registe semelhante definição. E, para agravar, nem sequer regista a variante sericá.

 

[Texto 6947]

 

 

* Lucy Pepper e Célia Pedroso, no livro Eat Portugal (Alfragide: Caderno, 2011), descrevem-no como um «dense eggy pudding».