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Linguagista

«Tur de Kuban»...

A busca do exótico

 

      «O caçador espanhol Mario Migueláñez sofreu uma queda mortal enquanto caçava ao tur de Kuban na República de Kabardia-Balkaria, no Cáucaso russo» («Caçador espanhol morre a caçar tur», Caça & Cães de Caça, Novembro de 2016, p. 12).

      Tur de Kuban... Não tem também o nome, mais português, de cabra-montês-caucásica? Então, qual a dúvida? E a república da Federação Russa não é a Cabárdia-Balcária? Ora, ora. Ah, e a propósito de cabra-montês: em castelhano também se diz cabra montés.

 

[Texto 7186] 

«Cabra-montês/cabras-monteses»

Não façam isso

 

      «O PAN, partido com assento parlamentar, também tece os seus comentários na sua página oficial de Facebook, alertando que devem ser tomadas medidas para que a cabra-montês não se torne espécie cinegética. No entanto, nenhum dos comentários (e comentadores) se refere ao facto de que hoje temos as cabras-monteses de regresso ao Gerês» («As cabras do Gerês», Caça & Cães de Caça, Novembro de 2016, p. 5).

      Agora não, mas há uns anos estava sempre a ver, sobretudo em traduções, a forma «cabra-montesa». Parvalhices de mentes perversas que querem endireitar a sombra de uma vara torta. Não procurem lógica na língua; é assim porque sempre foi assim, resquício da invariabilidade de alguns vocábulos. Mudar agora para quê, para a cabra-montês não se ofender?

 

[Texto 7185]

Sobreiro, sobro, sobreira ou chaparro

Mas com as suas diferençazinhas

 

      «Por essas e outras, desde 2011, e após um projecto de resolução aprovado por unanimidade na Assembleia da República, o sobreiro, sobro, sobreira, ou chaparro, como lhe quiserem chamar, foi consagrado como a Árvore Nacional de Portugal. Não é só mais uma árvore na floresta» («Há uma torre que mostra como os sobreiros ajudam a Terra a respirar», Andrea Cunha Freitas, Público, 24.10.2016, p. 31).

   Sinónimos, pois, Andrea Cunha Freitas, mas veja num bom dicionário as diferenças, e vai surpreender-se.

 

[Texto 7184]

Então que seja «trol»

No éter

 

    «Esta nova era precisa de um novo nome: chamemos-lhe o Troloceno. Para quem não conhece, o troll é aquela figura da Internet cuja principal ocupação é desestabilizar um adversário. O objectivo de um troll (trolar, na linguagem da net) não é participar de um debate mas usar as regras do debate para minar o próprio debate, afastar as pessoas mais razoáveis, criar confusão, desconversar e no fim do processo vitimizar-se se for denunciado. Não precisamos de nos demorar na etiologia ou na sintomática do troll. Como disse um juiz do Supremo americano sobre outro assunto, sabemos que se trata de um troll quando estamos perante um troll» («Bem-vindos ao Troloceno», Rui Tavares, Público, 24.10.2016, p. 48).

      E porque não trol, como vejo por aí? E por isso Troloceno, e não Trolloceno. Sim, assenta-lhe muito bem esse nome. Aparecem por aqui alguns, mas dissolvem-se no éter.

 

[Texto 7183]

Sobre os fusos horários

E os Minorquinos

 

      A 30 de Outubro, chega o horário de Inverno. Aqui ao lado, os Minorquinos (não é complexo de quem tem mais de 1,80 m, é mesmo o gentílico relativo à ilha espanhola no mar Mediterrâneo) serão os primeiros a verem o pôr-do-Sol. A 1 de Novembro, a ilha balear verá desaparecer a luz do Sol às 17h40, ao passo que no Oeste da península tal só acontecerá às 18h25. Isto tem alguma lógica? Claro que não, e por isso amanhã o Parlamento das Ilhas Baleares aprovará uma declaração institucional para que se mantenha o horário de Verão, idealizado em 1784 por Benjamin Franklin (1706-1790), antes de haver luz eléctrica. Não podia deixar de haver fusos horários? Ah, e a propósito: estão a ver a representação do mundo com os fusos horários? Já alguma vez pensaram na razão do nome? Isso mesmo: porque se assemelham ao fuso de fiar, ou a um gomo de laranja. Em castelhano é huso; em português, fuso; em francês, fuseau; em italiano, fuso. Os Ingleses não têm imaginação, e por isso dizem time zone; como tão-pouco a têm os Alemães, e por isso dizem o mesmo, mas à sua maneira, Zeitzone.

 

[Texto 7182]

Agora é a vez de Cohen

Presente, mas não pronto

 

   «O coro feminino que acompanha a voz narrativa de Cohen persegue-o em crescendo enquanto ele entoa: “Um milhão de velas ardendo pela ajuda que nunca veio/ Hineni Hineni, meu Senhor”. A expressão hebraica que usa no último verso significa “estar pronto” — a mesma utilizada na Bíblia quando Abraão responde a Deus sobre o sacrifício do seu filho, Isaac, para o qual pensa estar preparado» («Podemos dar o Nobel a Cohen?», Mariana Lima Cunha, Expresso Diário, n.º 707, 24.10.2016).

      Pronto, já está toda a gente a ver aqui a despedida de Cohen. No fundo, estão frustrados por não terem visto o mesmo no Lazarus de Bowie, que dizem agora que era premonitório. E será mesmo que hineni, transliteração do hebraico הִנֵּֽנִי, significa «estar pronto»? O que leio, aqui e ali, é que significa «eis-me aqui». Claro que, chegados ao Além, se dissermos «eis-me aqui», o que pretendemos dizer é que estamos prontos, mas pode haver quem diga presente — «eis-me aqui» —, e acrescente que não está pronto. Será castigado?

 

[Texto 7181]