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Linguagista

Léxico: «copela»

Mais uma?!

 

      «Utiliza um invólucro com copela de 12 milímetros, bucha plástica e é carregado com pólvora D20. O resultado é um tiro com uma distribuição muito densa na zona central do alvo (50 centímetros) e uma boa aba de tiro» («Nortiro 32, 34 e 36 gramas e Dispersor 34», P. V., Caça & Cães de Caça, Novembro de 2016, p. 36).

      Ah, sim, outra! Até parece que não temos caçadores em Portugal, mas cazadores. A copela ou culote é o acabamento latonado da cápsula dos cartuchos. Esperemos que algum caçador ou especialista em armas e munições nos corrija, se for caso disso. 

 

[Texto 7195]

Léxico: «encare»

Outra de Espanha?!

 

     «Seria nesta última situação que pretendíamos avaliar a nova espingarda da Blaser, principalmente no encare, já que o seu baixo peso (3,1 kg, com canos de 76 cm) adivinhava tratar-se de uma arma confortável de transportar» («Blaser F16 Game», J. P. Bourguignon, Caça & Cães de Caça, Novembro de 2016, p. 35).

      Outra, pois. Em castelhano é que encarar também é «apuntar, dirigir un arma hacia un lugar. Encarar la saeta, el arcabuz». Agora interessava era saber se um caçador da Madeira, por exemplo, também usa o termo. Usa, Montexto?

 

[Texto 7194]

Léxico: «cupo»

Veio de Espanha

 

      «A Comunidade espanhola de Castela e Leão aprovou o Plano de Aproveitamento Cinegético para as áreas localizadas a norte do rio Douro para as temporadas de 2016-2017, 2017-2018 e 2018-2019, prevendo o abate de 143 lobos por vários processos de caça. Os cupos regionais serão os seguintes: Burgos, 15; Leão, 53; Palencia, 30; Valladolid, 5; e Zamora, 40» («Castela e Leão. Poderá caçar-se 143 lobos», Caça & Cães de Caça, Novembro de 2016, p. 14).

      Não conhecia. É o que dá não ser caçador. Entretanto, já sei o que significa, apesar de nem rasto dela nos dicionários. Cupo é o limite de peças a abater. Vem de onde não sopram bons ventos: cupo, em castelhano, significa parte, percentagem em geral.

 

[Texto 7193]

Tradução: «ensaimada»

Olha, fica assim

 

      Acho que, desta vez, vou mesmo deixar como o tradutor quis, fica ensaimada, como no original. O mesmo faz (mas também o faz quando não devia) o Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora, que apenas acrescenta: «[bolo de massa folhada em espiral]». É um bolo formado por uma tira de massa folhada disposta em espiral. E, se ontem falei dos Minorquinos, está na hora de trazer aqui os Maiorquinos: estes bolos têm origem em Palma de Maiorca. Em catalão, saïm significa banha de porco, e, por extensão de sentido, lardo. Myrna Corrêa, no Dicionário de Gastronomia (São Paulo: Matrix, 2016, p. 192), atribui-lhe origem árabe, mas o mais provável, como outros autores notam, é provir da cultura judaica.

 

[Texto 7192]

«Maçaroca/massaroca»

Está mal, pá

 

      E a propósito de beijoca e de outras palavras igualmente patuscas terminadas em -oca, lembrei-me do par maçaroca/massaroca, que nem professoras/autoras distinguem e conhecem. Digo e provo. «— Sim, pá. Maçaroca, pilim, bago ou, se preferes um termo menos vulgar, dinheiro. Trago aí uma verdadeira fortuna em notas e sobretudo em moedas» (Uma Aventura na Televisão, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Lisboa: Editorial Caminho, 2.ª ed., 1998). A espiga de milho é maçaroca; o termo popular para dinheiro é massaroca. Eu sei que há dicionários que apenas registam «maçaroca» para as duas acepções.

 

[Texto 7191]

Tradução: «morreo»

Morno, morno...

 

      Uma das centenas e centenas de palavras de uso diário que não encontramos no Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora, e noutros, evidentemente, é morreo. Beijos há muitos. Os Romanos, por exemplo, distinguiam — e praticavam, o que é melhor — o osculum, o beijo amistoso, do basium, o beijo amoroso, e o suavium, o passional. Pois bem, o morreo dos nossos vizinhos é o nosso linguado, o beijo mais ou menos demorado em que as línguas se tocam. Não estar nos dicionários bilingues só pode ser mau. «Beijoca», verte aqui o tradutor. Nada disso. Se até se diz, em castelhano, comerse la boca...

 

[Texto 7190]

«Poli, peli, boli»...

No caso concreto

 

      Já aqui falei mais de uma vez em redução vocabular, e em como é abundante na língua francesa. Também em castelhano há vários casos, como profe < profesor; boli < bolígrafo; poli < policía; metro < metropolitano; drogata < drogadicto; peli < película... E todas foram acolhidas pelo dicionário da Real Academia Espanhola. Mas a questão é como traduzir cada um desses termos em contexto. Apareceu-me agora mesmo poli, e a opção do tradutor foi verter para «polícia», e a minha seria «bófia».

 

[Texto 7189] 

Ortografia: «beneficência»

Este persiste

 

   «Uma gala de beneficiência que é vista como uma trégua na campanha. Hillary Clinton e Donald Trump estiveram sentados à mesma mesa num jantar onde as piadas fazem parte do menu» («“Tréguas” entre Donald Trump e Hillary Clinton em gala de beneficiência», Fátima Marques Faria, RTP, 21.10.2016).

    Estão sempre a jurar e a tresjurar que sabem, mas depois, afinal, não sabem nada. Não tem ciência nenhuma: é beneficência porque vem do vocábulo latino beneficentĭa.

 

[Texto 7188]

Léxico: «joëlette»

Grande invenção

 

      Só por uma reportagem na RTP1 fiquei a conhecer a joëlette, uma cadeira de transporte todo-o-terreno monorroda, que permite a prática de pedestrianismo e o acesso a áreas montanhosas ou com piso irregular a pessoas com mobilidade reduzida, idosas ou deficientes. Este curioso veículo está a chegar a todo o mundo, e não seria de esperar que se usasse este nome em todo o lado. No Chile, chamam-lhe julieta. A designação deriva do nome do inventor, Joël Claudel, que jura não se ter inspirado num monociclo praticamente igual que os Padres Brancos usavam para se deslocar em África.

 

[Texto 7187]