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Linguagista

Do canal da Mancha ao Sara

Mal habituados

 

     «A frota de navios de guerra russos encabeçada pelo porta-aviões Almirante Kuznetsov, que ontem cruzou o canal da Mancha e segue com destino à Síria, deverá passar entre hoje e segunda-feira ao largo da costa portuguesa» («Fragata portuguesa vigia passagem de frota russa a caminho da Síria», Susana Salvador, Diário de Notícias, 22.10.2016, p. 21).

      Isso mesmo, canal da Mancha. Lembrei-me de outras paragens mais cálidas e do que ouvi pela segunda vez: deserto do Sara fica, disse-me o meu interlocutor, irreconhecível. Acham mais natural deserto do Sahara, claro. Até devem preferir, suspeito, em árabe, الصحراء الكبرى, mas envergonham-se de o pedir.

 

[Texto 7203]

Léxico: «autor-fantasma»

E outras fantasmagorias

 

      «Autor-fantasma do livro apanhado nas escutas» (Débora Carvalho, Correio da Manhã, 22.10.2016, p. 30).

      Ainda pensei que os dicionários da língua portuguesa registassem ghostwriter e não autor-fantasma, mas não chegam a tanto — simplesmente não registam nenhum dos termos. Quanto a fantasmagorias inglesas, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista uma que me é muito cara, ghosting: «modo de acabar uma relação amorosa, que se caracteriza pela forma abrupta e inesperada como a pessoa que pretende terminar o relacionamento o faz, desaparecendo sem explicações e evitando qualquer tipo de comunicação posterior com o parceiro abandonado». Por vezes, não há outra saída. Não regista é outra acepção de ghosting, bem conhecida de quem via televisão aí pelos anos 70 e 80: «The appearance of a ghost or secondary image on a television or other display screen.»

 

[Texto 7202]

Ortografia: «cachorro-quente»

Malditos sejam

 

      «O governo da Malásia vai proibir a venda de cachorros quentes no país» («Malásia proíbe venda de cachorros quentes», Correio da Manhã, 22.10.2016, p. 37).

      Acho muito bem. Malásios do catano! Pervertidos! Imagine-se, a comerem cachorros quentes. São eles e os comunistas a comerem pequenos assados, os malandros. Os jornalistas e os revisores é mais queijo.

 

[Texto 7201]