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Linguagista

«Reality check»

Mais um embate

 

    «Ao optar hoje, neste contexto, por um reality check, passe o estrangeirismo, às políticas do PS para a Educação, o meu objectivo não é opor-lhes certezas (que as tenho), mas antes confrontá-las com as interrogações e as perplexidades que suscitam» («Reality check às políticas para a Educação», Santana Castilho, Público, 17.11.2016, p. 54).

      Não passa, mas pronto, já está, falemos dele. Reality check. Só não percebo é por que razão o Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora traduz a expressão por «choque com a realidade».

 

[Texto 7250] 

Ortografia: «Hidra»

Ilhas gregas e macacos

 

    «É um regime que remonta à sua adolescência e que Cohen levou consigo para a ilha grega de Hydra, onde viveu na década de 60 e se apaixonou por Marianne Ihlen, que viria a inspirar três das suas mais fabulosas composições: Hey, That’s No Way to Say Goodbye, Bird on the Wire e, é claro, So Long, Marianne» («“Disse que estava pronto para morrer. Exagerei”», Dan Cairns, Sábado, n.º 655, 17.11.2016, p. 100).

   Aposto que é linda — mas em português escreve-se Hidra. «Hidra, mit. f. astr. f. e top. <f.>», escreveu Rebelo Gonçalves no seu Vocabulário da Língua Portuguesa. Já alguém dirá que é só uma letra diferente e que não é preciso gastar tanto tempo a falar do caso. Como queiram. Só espero que não seja o mesmo que traduziu donkeys por «macacos»...

 

[Texto 7249]

«Barca-Velha» ou «Barca Velha»?

Todos transtornados

 

      Já está aí à venda a 18.ª edição do mítico Barca Velha. A colheita é de 2008 e chega agora ao mercado. Vi uma garrafa — Barca-Velha —, e ia jurar que antes não tinha hífen. Estará lá desde o início? Não sei; o que sei é que há um livro (degustem aqui um excerto), publicado em 2012 pela Oficina do Livro, da autoria de Ana Sofia Fonseca, em que não encontramos o hífen no título: Barca Velha – Histórias de Um Vinho. Como é? Mas demos lugar à jornalista Joana França Martins, da RTP, numa reportagem sobre este vinho: «Um vinho ícone que só acontece por causa de um tratamento ícone também.» Vinho ícone... Depois não querem que os Portugueses consumam 2,8 milhões de litros de bebidas alcoólicas por dia. Pudera, se uma pessoa fica transtornada. Transtronada. Destronada. Destruída. Hic!

 

[Texto 7248]

Ortografia: «intelligentsia/intelligentzia»

Todos desnorteados

 

     «Não deixa de ser curioso verificar como uma parte significativa da inteligenzia da direita portuguesa aderiu com inusitado e imprevisto entusiasmo à vitória do senhor Trump» («A vitória de Trump: factos e interpretações», Francisco Assis, Público, 17.11.2016, p. 52).

    Então não é intelligentsia ou intelligentzia, transliteração do russo интеллигенция, que habitualmente se grafa? A diferença ainda é grande para se poder acreditar pacificamente que é gralha. O Sr. Trump deixa toda a gente desnorteada, e, com a sua vitória, não sei se se pode continuar a dizer que love trumps hate.

 

[Texto 7247]

Léxico: «autotransplante»

Já o mataram

 

      O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) fez um autotransplante de fígado num adulto jovem que tinha um tumor. O Dr. Emanuel Furtado, coordenador da Unidade de Transplantação Hepática do CHUC, explicou como se processa a intervenção, o que, para aqui, não nos interessa. Interessa, isso sim, o que se diz no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora sobre autotransplante: «MEDICINA operação que consiste em transplantar um órgão ou tecido de um local para outro no corpo do mesmo indivíduo.» De um local para outro? Então o fígado vai para o lugar do pâncreas, ou o coração para o baço? Ora cá está mais um verbete a precisar de ser corrigido. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa nem sequer regista o vocábulo.

 

[Texto 7246]