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Linguagista

«Rent a Jew»

Em vez de os queimarem

 

      Não há muito, lembro-me — mal, porque achei uma tolice na altura — de ouvir na rádio alguém criticar uma campanha de adopção de... de... pois, é desta parte que não me lembro. Talvez adopção de avôs, e um «especialista» veio condenar com veemência o nome da iniciativa. Pois bem, agora, na Alemanha, acabo de ver no sítio da TSF, a Janusz Korczak Academy tem uma iniciativa chamada... Rent a Jew. («Nome-choque», lê-se na notícia...) «Kennen Sie einen Juden? Nein?! Mieten Sie einen!» A ideia é promover encontros entre judeus que vivem na Alemanha e não judeus. Não sei se o nome atrai, se repele. O que sei é que a designação, o chamadoiro, como diria Botelho de Amaral, seja do que for tem muita importância.

 

[Texto 7335]

Manobra de Heimlich

É para corrigir

 

      Morreu hoje, aos 96 anos, o cirurgião torácico norte-americano Henry Heimlich, que inventou a manobra de Heimlich. Que nos interessa isto, perguntam? Muito. Deve ser o procedimento que mais vidas salva em todo o mundo. Eu aprendi a fazê-la num curso. (Esta é a parte do heimlich, «secreto», em alemão...) Não estará nos dicionários gerais, mas no Dicionário de Termos Médicos da Porto Editora encontramo-la, à manobra de Heimlich: «manobra destinada a fazer expelir alimentos que foram obstruir a árvore traqueobrônquica. Consiste em fazer compressões, enérgicas e repetidas, do abdómen junto ao rebordo costal, de modo a forçar movimentos diafragmáticos». Algumas afinações: a manobra destina-se a expulsar o que quer que se encontre a obstruir a árvore traqueobrônquica, e não apenas — obviamente, gostava de dizer, mas, pelos vistos... — alimentos. Se uma criança engolir uma tampa de esferográfica, por exemplo, não fazemos esta manobra? Corrijam. Quanto ao nome do médico: é Henry Judah Heimlich, e não, como se lê naquele dicionário, Harry J. Heimlich. E já podem completar: «Henry J. Heimlich, cirurgião torácico norte-americano, 1920-2016)».

 

[Texto 7334]

Tradução: «endorsement»

Ora aí está

 

      «Outro exemplo. Os “endorsements” – leia-se: os patrocínios – feitos pelas celebridades funcionam? A resposta, os cientistas foram busca-la [sic] à mastectomia realizada pela atriz Angelina Jolie e às reações a um artigo sobre essa operação no New York Times» («Relação entre espargos e cheiro da urina: um dos mais estranhos estudos do ano», TSF, 17.12.2016).

      Não veio da Lusa, não se percebe a razão para tanto desleixo. Mas vamos ao que interessa: «patrocínio» será a melhor tradução para endorsement? Acho que não; é até equívoco. Creio que, no contexto, apoio público seria mais correcto. Noutros contextos, aprovação, recomendação, recomendação publicitária. As entidades e instituições é que patrocinam. Não há muitas iniciativas e causas que têm o Alto Patrocínio da Presidência da República?

 

[Texto 7333]

Léxico: «caracterial»

Insulto críptico

 

      Hoje aprendi uma palavra: «caracterial». Como substantivo, refere-se à pessoa que apresenta perturbações de carácter. Não conheço ninguém assim, devo dizer. Em francês é que a apropriação, sobretudo em reduções vocabulares, do vocabulário técnico da psicanálise é maior: mytho, parano, schizo...

 

[Texto 7332]

Como se escreve nos jornais

Não se recomenda

 

      «E, desde 2013, anda também longe de Santa Marta: tem andado com a casa às costas, a jogar em estádios emprestados, devido ao encerramento do velhinho Estádio Eduardo Santos, devido à falta de condições de segurança» («Um troféu, uma maldição e uma estátua cabeluda», Tiago Pimentel, Público, 17.12.2016, p. 44).

   Esqueceu-se de reler, Tiago Pimentel. Um «devido» já seria indevido, quanto mais dois. Isto na mesma frase. Doravante, vai ver que consegue viver sem nenhum. Tente. Liberte-se!

 

[Texto 7331]