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Linguagista

Como fala o Pai Natal

Boas Festas

 

      Vá lá, não vamos agora fingir que a dificuldade não existe: como traduzimos/transcrevemos aquela interjeição do Pai Natal? (Não vem ao caso, mas é claro que digo e escrevo Pais Natais.) Ou vamos deixá-lo a interjeccionar em inglês para sempre? É que, se temos as interjeições ó e oh, não temos ho, que é como se representa sempre aquela interjeição*. E, o que é mais interessante, como notou Véronique Dahlet, esta combinação silábica contraria o que encontramos para os termos comuns da nossa língua, em que é sempre consoante h + vogal. No entanto, em Gil Vicente tínhamos hou, interjeição para chamar: «Hou da barca!» Ao que parece, aquela interjeição inglesa — que vem do latim io — equivale mais ou menos a «ouçam». «Ouçam, é Natal!»

 

[Texto 7353]

 

* Claro que, para os borra-botas que escrevem «ha, ha, ha», «hi, hi, hi», «ho, ho, ho», é tudo igual. Não escrevo para eles.

«Glúten/gluteína/glutenina/glutelina»

Para rever

 

      A molécula do glúten é composta por proteínas solúveis e por proteínas insolúveis. Estas últimas, que tornam a farinha panificável, são a gliadina e a gluteína. Dito isto, não compreendo porque manda o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora «ver glúten» no verbete de «gluteína», porque no verbete de «glúten» pode ler-se apenas que é a «mistura de proteínas existente nas sementes dos cereais, especialmente no trigo», sem especificar quais, e no verbete de «gliadina», em vez de uma remissão, se lê que é a «substância semelhante à gelatina, que se extrai do glúten». É muito simples: ou definem ambos os termos ou não definem nenhum. Independentemente disso, se querem fazer alguma remissão em «gluteína», será para «glutenina» e não para «glúten». E não devem esquecer-se de que as remissões devem ser sempre recíprocas. Mais: a gluteína é uma glutelina, termo este que o dicionário não acolhe.

 

[Texto 7352] 

Léxico: «termossensível»

Pouco cozido

 

   Algumas vitaminas, a maioria, são termossensíveis, isto é, deterioram-se quando os alimentos são cozinhados a altas temperaturas. (É para evitar isto que se pode cozinhar a vapor brando, abaixo dos 100 ºC.) No entanto, o vocábulo não está nos dicionários, e nomeadamente no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E sim, é sem hífen, pois nos compostos de elementos de origem substantiva derivados do grego ou do latim não se emprega o hífen.

 

[Texto 7351]

Já nem os fusos

Já não sabem às quantas andam

 

    «Os habitantes de Augsburg vão ter de deixar as suas casas este domingo para as autoridades desativarem uma bomba de 1,8 toneladas da II Grande Guerra. Na área que vai ser selada localizam-se, entre outros edifícios, a catedral medieval e a Câmara Municipal, não sendo autorizado qualquer movimento nas ruas próximas, a partir das 08:00 locais de domingo (09:00 em Portugal) e todas as pessoas devem ter deixado as suas casas às 10:00 locais. […] Estas situações são habituais na Alemanha, no entanto, esta operação envolve mais moradores que uma registada em 2011, na cidade Koblenz, no Estado da Renânia-Palatinado, no centro-este da Alemanha, em que foram retiradas 45.000 pessoas das suas residências» («Mais de 54 mil pessoas têm de sair de casa no Natal por causa de bomba», TSF/Lusa, 24.12.2016).

   Imagino que até tenham instruções, como noutros sítios, para não escreverem Augsburgo e Coblença, por isso, esqueçamos essa questão. Mas, e a hora? Às 8h00 locais, 9h00 em Portugal? Mas se o fuso de Berlim é UTC+1, como é isso?

 

[Texto 7350]