Léxico: «papibaquígrafo»
Isto é abracadabrante
«“Tá-té-ti-tó-tu.” “Agora, digam isto com carinhas feias. Mais feias.” A ideia é relaxar partes da cara normalmente tensas. Depois, é a vez de destravar a língua: dizer, sem gaguejar, papibaquígrafo. A dicção, em política, conta, defende [Nuno Miguel Henrique]. Essa é a preocupação de um dos formandos, um médico dentista de 60 anos. Robson Santos não quer tropeçar na sua própria fala quando expressa uma ideia, mesmo que seja no consultório. “Muitas vezes só falamos, não comunicamos”, diz, defendendo que a capacidade de “comunicar com naturalidade” devia ser mais trabalhada nas escolas» («“Protocolo é afirmação de poder” mas a sua falha pode ter graça», Maria João Lopes, Público, 5.03.2017, p. 6).
Nunca é tarde para nos desenganarmos: até hoje, eu sempre disse «pipapapígrafo». Não tem muita importância, dir-se-á, porque é uma palavra inventada (mas uns lunáticos já lhe inventaram um significado), mero trava-língua, mas, por essa ordem de ideias, também seria indiferente dizer, excepto pelo peso histórico, «acabradabra» em vez de «abracadabra». E convenhamos que «papibaquígrafo» trava muito mais a língua.
[Texto 7530]