Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Tradução: «Dark Ages»

Medium aevo

 

      Bem sabemos que Idade das Trevas tem como sinónimo Idade Média, mas não me parece bem que alguns dicionários bilingues, e, entre eles, o Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, a Dark Ages façam corresponder «Idade Média». Já no Dicionário de Português-Inglês, temos duas entradas: Idade das Trevas (Dark Age) e Idade Média (Middle Ages). E sim, repararam muito bem: ora usam o singular, Age, ora o plural, Ages.

 

[Texto 7542]

Tradução: «Doctor of Divinity»

D. D.

 

      Claro que não posso remeter este tradutor para o rabino americano Henry I. Sobel — nascido em Lisboa e radicado no Brasil, que fez coisas boas, mas que a posteridade talvez lembre apenas por ter sido preso por furtar gravatas de luxo numa loja Louis Vuitton em Palm Beach —, que escreveu: «Muito tempo depois, em 1995, eu apresentaria ao seminário um novo trabalho, O conceito do mal na filosofia de Martin Buber, que me daria o título de Doctor of Divinity. Não sei exatamente qual a tradução, mas trata-se de um título honorífico, semelhante ao de doutor honoris causa, em Teologia» (Um Homem, Um Rabino, Ediouro, 2008, p. 32). O tradutor verteu, simplesmente, por «Doutor em Divindade». O Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora opta por «doutor em teologia», mas se é – fui verificar, não estou a pô-lo como hipótese – um título honorífico, não convém confundi-lo, pô-lo a par de um grau académico. O tradutor tem razão.

 

[Texto 7541]

Léxico: «não-conformista»

Mas tem de se pensar em tudo

 

    Falar de conformismo e de não-conformista daria pano para mangas, mas uma coisa pelo menos é certa: na definição de «não-conformista», o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não pode apenas dizer «que ou pessoa que não se conforma com os usos, modos e costumes do tempo ou do meio em que vive». Tem, necessariamente, de registar à parte uma acepção religiosa. Já quanto a conformismo, garantir que é, na Inglaterra, o mesmo que anglicanismo pode conduzir a equívocos, pois é preferível falar da Grã-Bretanha, e, nesta, um não-conformista na Escócia pode ser exactamente o contrário de um não-conformista no País de Gales ou na Inglaterra.

 

[Texto 7540]

Léxico: «mocho»

Como é?

 

      «O gosto pelo ofício traz preocupações. O verdadeiro Queijo da Serra, aquele de [sic] goza de Denominação de Origem Protegida (DOP), está em risco, garante o pastor. “Não dão valor a este produto, pagam ao mesmo preço o leite das mochas, e este leite é melhor, e assim perde-se esta raça. Por isso é importante esta ida a Lisboa, para dar a perceber a importância destas ovelhas”, acrescenta [o pastor António Lameiras]» («Ovelhas “Fidalga” ou “Amarela” vão ao Chiado. Desfile alerta para extinção do Queijo da Serra», Liliana Carona, Rádio Renascença, 7.03.2017, 9h50).

      Até parece que o pastor está a afirmar que a raça se designa mocha, mas o artigo começa precisamente assim: «Um rebanho de ovelhas e um carneiro de raça bordaleira da Serra da Estrela é esperado em Lisboa para um desfile no Chiado, esta terça-feira.» Agora reparem no que se pode ler no verbete do adjectivo mocho no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «diz-se do animal que não tem armação porque lha cortaram ou porque nasceu sem ela, devendo tê-la». Porque lha cortaram ou porque nasceu sem ela, devendo tê-la... Então em qual destes casos está, por exemplo, a raça Suffolk, pode saber-se? É claro que a definição não está correcta.

 

[Texto 7539]

«Aportar», verbo só para alguns

Esta vida de marinheiro

 

      «É lá que a coragem vai beber 
e ela aporta dinamismo, motiva, impulsiona a lutar por aquilo em que se acredita, etc.» Os nutricionistas é que julgam precisar do verbo «aportar», mas, na realidade, só os marinheiros precisam dele. Experimentem consultar um dicionário. Esperem! Não todos, naturalmente. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, felizmente, só regista o que era de esperar: «(verbo transitivo e intransitivo) entrar em (um porto); (verbo transitivo) trazer a um porto». E chega.

 

[Texto 7538]

«Cortina de fumo»

Em sentido figurado

 

      «Uma cortina de fumo é uma conhecida táctica militar empregue [sic] para enganar o inimigo e ocultar uma posição antes do ataque ou esconder o verdadeiro objectivo de uma campanha: uma manobra de diversão que Donald Trump e a sua equipa da Casa Branca são peritos em utilizar para (em jargão político) mudar uma narrativa que não lhe interessa» («Donald Trump apanhado na sua própria cortina de fumo», Rita Siza, Público, 7.03.2017, p. 18).

    Isso mesmo, mas o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora mistura o sentido próprio e o sentido figurado, o que deve ser corrigido: «MILITAR cobertura de fumo para ocultar uma posição militar, coisa feita para desviar a atenção do verdadeiro objectivo».

 

[Texto 7537]