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Linguagista

Léxico: «freatomagmático»

Falemos de vulcões

 

      «A explosão [do Etna] desta quinta-feira foi o resultado daquilo que os especialistas chamam uma erupção o [sic] freatomagmática, que resulta da interacção do magma com a água, neste caso com a neve» («Dez feridos em explosão no vulcão mais activo da Europa», Rádio Renascença, 16.03.2017, 15h46).

      Freatomagmático. Não fica bem apenas num dicionário de Ciências da Terra. O que defendo é que, se é usado nos meios de comunicação social, deve estar nos dicionários. Relativo a vulcões, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem, entre outras, «estromboliano». Aliás, se regista esta, também devia acolher «taaliano» e «surtseiano»; e, quando acolher «freatomagmático», convém registar igualmente «hidrovulcânico». E, já que estamos nisto, devo avisar que o adjectivo «monogenético» também se usa no âmbito da vulcanologia, o que, se não implica alterações no respectivo verbete, obriga a acrescentar uma acepção no verbete «monogénese».

 

[Texto 7571]

Carta-bomba, ou não

Bomba é

 

      Como sabem, alguém mandou, por correio, um engenho explosivo para a sede do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Paris, e, segundo os meios de comunicação, o responsável será o grupo anarquista grego Conspiração das Células de Fogo. Pois bem, nem sequer uma vez ouvi a palavra carta-bomba — talvez porque não foi uma carta-bomba. Nos noticiários ao longo do dia, foi sempre «envelope armadilhado», como na SIC às 20h00, ou «pacote armadilhado». Na imprensa brasileira, li «pacote-bomba», que nós não usamos. Contudo, em alguma imprensa anglo-saxónica, lê-se que foi uma letter bomb. Suponho, porém, que devemos dar mais crédito à imprensa francesa, porque, afinal, foi na França que aconteceu, e nela não se lê que foi uma lettre piégé, mas sim um colis piégé. Se procurarmos bem, na imprensa portuguesa encontramos, referentes a outros casos, o termo «encomenda-bomba».

 

[Texto 7570]

«Tratar-se de»

E a gramática?

 

      «Quando Charles Smith foi filmado a dizer “o ministro é corrupto”, ele era efectivamente corrupto. E o mais provável, tendo em conta este vasto rol de suspeitas, é que não se tratassem de mera [sic] tentações ocasionais de José Sócrates, mas de um modo de vida — e, mais grave, uma forma muito eficaz de construir uma carreira política e uma sólida corte de fiéis no Portugal dos anos 80, 90 e 2000» («Sócrates e a pergunta que ninguém quer fazer», João Miguel Tavares, Público, 16.03.2017, p. 52).

      Tanta espertalhice, mas com a gramática elementar é que não atinam. João Miguel Tavares, tratar-se é um verbo defectivo e impessoal, pelo que se usa sempre na 3.ª pessoa do singular. Percebe? «Não se tratasse de meras tentações».

 

[Texto 7568]