Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Carabineiros e Guarda Civil

Isso mesmo

 

      «Uma vida de perigos, sempre com a Guarda Fiscal à perna do lado português, e os Carabineiros, do lado espanhol. Polícia que atirava assim que via um contrabandista» («Festival do Contrabando: Quando se passava a fronteira a salto», Maria Augusta Casaca, TSF, 23.03.2017, 7h47).

      Carabineiros, muito bem. Na lógica dos que escrevem e dizem Guardia Civil, seriam os Carabineros. O Corpo de Carabineiros, criado em 1829 e integrado em 1940 na Guarda Civil, tinha como missão a vigilância das costas e fronteiras espanholas e a repressão da fraude fiscal e o contrabando.

 

[Texto 7618]

Léxico: «crédito malparado»

Mas não sabem

 

      «Ainda recentemente, em declarações ao PÚBLICO, António Esteves, ex-Goldman Sachs, que apresentou uma proposta informal ao Banco de Portugal e ao Ministério das Finanças para comprar o crédito malparado no balanço dos bancos, estimou em dois mil milhões os empréstimos em moratória (cujo reembolso ou pagamento de juros decorre fora dos prazos, em dívida a mais de 90 dias), conhecidos por non performing loans (NPL, na sigla em inglês), no balanço do banco Montepio» («Valor do Montepio na Mutualista dificulta entrada de parceiros», Cristina Ferreira, Público, 21.03.2017, p. 16).

      De caminho, até ficamos a saber como se diz em inglês (olá, legião). O pior é que não está nos dicionários gerais da língua, e não será ousadia prever que a esmagadora maioria dos leitores de jornais não fazem a mínima ideia do seu significado.

  

[Texto 7617]

Tradução: «associate»

Mau, descambamos

 

      «Rowley [comissário adjunto da Scotland Yard] aproveitou fazer [sic] um apelo a quem possa auxiliar nas investigações. “Quem conheceu Khalid Masood e sabe quem são os seus associados pode ajudar e dar-nos informação sobre lugares que visitou recentemente”» («Polícia faz duas novas detenções relacionadas com ataque de Westminster», Rádio Renascença, 24.03.2017, 8h12).

      Afinal, não é só na TSF que se vêem estes erros crassíssimos de tradução. Sim, a polícia usou o termo associates — mas, no contexto, significa cúmplices, como me parece evidente.

 

[Texto 7616]

Léxico: «lobo solitário»

Antes que seja tarde

 

      «Um típico ataque ao género lobo solitário, mas que ainda assim foi reivindicado pelo Estado Islâmico» («Polícia evita possibilidade de imitações», Destak, 24.03.2017, p. 9).

      É melhor ir para os dicionários – como está em dicionários de outras línguas –, ou ainda começam a dizer e escrever lone wolf.

 

[Texto 7615]

Léxico: «roda-gigante»

Cá, e há muito

 

      «Desde que foi criado em junho de 2016 e até 18 de março deste ano, o site criado pela autarquia lisboeta para receber sugestões para a nova Feira Popular teve mais de 35 mil visitas e recolheu 4.812 opiniões. Os divertimentos mais valorizados são a montanha-russa (3.830), a casa do terror (3.011) e a roda-gigante (2.900); e a Internet sem fios (3.476) e uma página no Facebook (2.425) são as formas eleitas para valorizar o novo espaço» («Montanha-russa e Wi-Fi grátis entre desejos para a nova Feira Popular», Destak, 24.03.2017, p. 5).

      Só não percebo porque se diz no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora que o vocábulo é brasileiro.

 

[Texto 7614]

Léxico: «carpeada»

Também lido e ouvido ontem

 

      Vi apenas uns segundos do Portugal em Directo de ontem, mas o suficiente para ficar a conhecer uma palavra: carpeada. Designa o processo de transformação da lã depois de tosquiada e lavada, até à obtenção do fio. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora apenas regista o verbo, carpear («desfazer os nós da lã para a cardar»), e o substantivo carpeadura («conjunto de fios tirados de um pano de linho e destinados a um curativo»), que não é sinónimo de «carpeada».

 

[Texto 7613]

Léxico: «mentirologista»

A arte e o artista

 

      «“As pessoas só se lembram dos casos em que a meteorologia errou, ou em que falhou por excesso de zelo, como aconteceu recentemente com o anúncio de enorme agitação marítima e perigo de inundações, que acabou por não se confirmar. Mas, nestes casos, é melhor pecar por excesso e ter as populações de sobreaviso, evitando-se assim males maiores”, defende Olavo Rasquinho [presidente da Associação Portuguesa de Meteorologia e Geofísica]. “E sim, nós sabemos, lá nos chamam os ‘mentirologistas’”, ironiza» («O tempo tem os seus “caprichos”», Ana Vitória, Jornal de Notícias, 23.03.2017, p. 35).

      Falta no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que, todavia, acolhe mentirologia (usado já no início do século XX por Ruy Barbosa), definida como «1. arte de mentir; 2. situação caracterizada pela mentira sistemática». Se tem a arte, tem de ter o artista.

 

[Texto 7612]

Léxico: «guarda-corpos»

Lido e ouvido ontem

 

      «Manuel Salgado [vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa] apontou que “uma das hipóteses, para qual havia alguns indícios, nomeadamente no guarda-corpos, era de ter havido um embate de um veículo pesado”» («Lisboa tira da gaveta alternativa ao viaduto de Alcântara», TSF, 23.03.2017, 19h51).

      Está em vários dicionários, mas não o encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. (Vejam aqui este guarda-corpos num viaduto em Genebra, Suíça. Exactamente, outro termo não dicionarizado: fotobiorreactor.)

 

[Texto 7611]

Léxico: «bolivariano»

Mais um

 

      «Já foi um dos países mais abastados da América Latina, atraindo, devido ao seu petróleo, imigrantes de toda a Europa. Mas a chegada de Hugo Chávez e do socialismo bolivariano ao poder levou milhares de venezuelanos a sair do país, sobretudo da classe média alta e gente ligada às multinacionais nacionalizadas» («Por terra e por mar, eles estão a partir», Ana Gomes Ferreira, Público, 16.03.2017, p. 25).

      Está em vários dicionários, mas não o encontramos no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 7610]

O verbo «assistir», regência

Erro pouco poético

 

      Chegou ontem, e na linha do assunto vinha isto: «CCB | comemora o Dia Mundial da Poesia já este sábado, dia 25 de Março e as bilheteiras para os Dias da Música abrem no dia 23, sexta-feira. Apresse-se antes que esgotem os concertos que mais gostaria de assistir!» Não têm uma gramaticazinha lá no Centro Cultural de Belém?

 

[Texto 7609]