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Linguagista

Léxico: «frisante»

Borbulhante

 

      Ao almoço bebi vinho frisante Crista de Galo, «jovem e refrescante, young and fresh». Era, é. Podia ter sido, há motivos para isso, champanhe, mas não quis exagerar. Frisante, pois. A qual das acepções do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora corresponde? A nenhuma. E o que são vinhos frisantes? Responde Jorge Cipriano, do Clube de Vinhos Portugueses: «São vinhos leves, jovens, na maioria de baixo teor alcoólico e distinguem-se dos espumantes em dois aspetos principais: – Pressão do líquido dentro da garrafa até um máximo de 1,5 bar. No espumante a pressão tem que ser no mínimo de 6 bar. – São bebidos jovens. O espumante tem que repousar no mínimo dois a dois anos e meio em garrafa.»

 

[Texto 7648]

Léxico: «inscritivo»

Quase no osso

 

      «Carlos Branco, um dos curadores da exposição [«O mais profundo é a pele», no MUDE, que mostra tatuagens recolhidas entre 1910 e 1940] trabalhou no restauro dos 60 fragmentos expostos, alguns com mais de cem anos e conta que à época existiam vários tipos de tatuagens, “as inscritivas com nomes e datas, as tatuagens amorosas, eróticas, animais, flores e depois aquelas mais simbólicas como o saimão ou os cinco pontos, o homem entre quatro paredes”» («À flor da pele», TSF, 30.03.2017, 18h15).

      Curioso: vai para cem anos, já se usava o adjectivo inscritivo para descrever tatuagens; agora, não há um dicionário que o registe. Iam deixando a língua no osso. Já saimão é diferente: é verdade que está registado em alguns dicionários (encontramo-lo, por exemplo, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado), mas apenas para se dizer que é a forma alterada de Salomão e que se usa somente no vocábulo composto signo-saimão, ou sino-saimão, ou sino-de-saimão, ou senhor-saimão, ou... Seja como for, nunca li ou ouvi «saimão» para significar «signo-saimão», como também ninguém diz «lazúli» querendo referir-se ao «lápis-luzúli», acho eu.

 

[Texto 7647]

Léxico: «internupcial»

E entre o casamento e o divórcio...

 

     «O Bloco de Esquerda considera também “inaceitável que uma mulher, para poder beneficiar de prazo internupcial igual ao do homem, necessite obter uma declaração judicial, acompanhada de atestado de médico especialista em ginecologia-obstetrícia, que comprove a sua situação de não-gravidez”» («Parlamento discute novos prazos para segundos casamentos», Rádio Renascença, 30.03.2017, 7h48).

      E não é que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista antenupcial e pós-nupcial, mas não internupcial, que, no entanto, está há décadas na lei? Pois é, e agora faz falta.

 

[Texto 7646]

Léxico: «armamentário»

Mas não é adjectivo

 

   «“Estou a achar muito estranho, na medida em que é um medicamento [Docetaxel] que é utilizado há muitos anos – provavelmente há 20 anos. Faz parte do armamentário ‘standard’. É relativamente barato e é utilizado em grande escala em diversos tipos de patologia, nomeadamente na área mamária”, afirma Vítor Veloso, da direcção da Liga [Portuguesa contra o Cancro]» («Cancro. França suspende medicamento e Liga Portuguesa defende “estudo mais adequado”», Rádio Renascença, 30.03.2017, 10h52).

    Encontramo-lo no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, decerto, mas aparece registado apenas como adjectivo, «relativo a armamento». Ora, em livros de medicina, e no artigo em cima, é usado como substantivo para designar todos os meios de que o médico dispõe, dos livros ao instrumental cirúrgico, passando, naturalmente, pelos medicamentos, para o exercício da sua profissão.

 

[Texto 7645]

Tradução: «petite laine»

Menos literal

 

      O autor gosta mais do Outono, ainda que seja a estação em que os dias ficam mais curtos, as árvores perdem as suas folhas — e a temperatura nos obrigue a tirar do armário uma «petite laine». Para o tradutor, era uma «pequena lã», seja lá isso o que for. Não se quis esforçar e procurar, já que não sabia. E custava muito que o Dicionário de Francês-Português da Porto Editora o registasse? Decerto que não. Uma petite laine pode ser – o contexto ditar-nos-á o que se adequa – um xaile, um casaco de lã, ou, enfim, um pulôver, peças de lã ligeiras, para os primeiros frios. Na cidade de Rivière-du-Loup, junto do maior estuário do mundo, o do rio São Lourenço, no Canadá, realiza-se um Festival de la Petite Laine. P’tite Laine.

 

[Texto 7644]