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Linguagista

Léxico: «romanesco»

Que tem o carácter do romance? Não

 

      «A parte [do Vaticano] com os muros mais imponentes é o Passetto ou, em romanesco, “Corridore de Borgo”» («Estado mais pequeno do mundo», Benedetta Capelli, O Meu Papa, ed. n.º 2, 7.04.2017, p. 20).

      Não, a culpa não é da tradutora: romanesco para significar o dialecto (ou sociolecto, afirmam outros) de Roma já anda há muito por aí em obras em língua portuguesa. Para não ir mais longe: ainda ontem referia aqui o nome da biógrafa de Alexandre O’Neill. Pois foi na biografia de Alexandre O’Neill que encontrei este termo: «Traduziria ainda, para os leitores d’A Capital de 1983, Giuseppe Gioacchino Belli, um poeta italiano do século XIX que escrevia em dialecto romanesco, o linguajar do povo de Roma» (Alexandre O’Neill: Uma Biografia Literária, Maria Antónia Oliveira. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2007, p. 233). Para mim, nomes de povos e de línguas não podem faltar nos dicionários, e nunca deverão ser considerados termos estrangeiros.

 

[Texto 7690]

Léxico: «azeitólogo»

Por mim, perfeito

 

      «No sector da olivicultura, o tema vem por vezes à baila. Que nome dar ao criador de azeites? Técnico de azeite? Oleiólogo? Azeitólogo? Outro. Admito que se possa um dia arranjar um nome que não provoque risinhos. Mas, para o que hoje nos interessa, temos de dar os parabéns à empresa Masaedo, pelo facto de ter a coragem de — julgamos que pela primeira vez — mencionar nos contra-rótulos dos seus azeites o nome do azeitólogo que os cria [Nuno Rodrigues]» («Já temos um azeitólogo assumido», Edgardo Pacheco, «W»/Jornal de Negócios, 7.04.2017, p. 20).

      É pena é «o facto de», mas não compreendo os risinhos. Azeitólogo já anda por aí em livros, e não apenas em contra-rótulos. Se aparecer outro melhor, avisem. Mais estranho é, por exemplo, enólogo, e ele lá entrou nos hábitos.

 

[Texto 7689]

Léxico: «urso-pardo»

Queremos o pardo

 

       E a propósito de pardo, não já o burel, mas o urso-pardo (Ursus arctos), acabei de ler a palavra aqui num texto. Ora, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que tem urso-branco ou urso-polar, não se pode orgulhar de ter na sua reserva urso-pardo, muito mais ligado a nós do que os outros. Não se diz que o rei D. Dinis, durante uma caçada lá para os lados do Guadiana, foi atacado por um urso-pardo? Uma das bases do túmulo deste rei, no Mosteiro de Odivelas, até representa um urso-pardo, talvez evocativo disso.

 

[Texto 7688]

Léxico: «lambrusco»

Cá está, frisante

 

      «Sessenta rapazes da escola hoteleira Nazareno de Carpi cozinharam para ele e mais 320 convidados tortellini, lombo de porco no forno com batatas salteadas e tortelli al savòr, a compota local de mosto de uva e fruta; tudo acompanhado por vinho lambrusco rosé da Cantina di Carpi e Sorbara, etiqueta “Piazza Martiri”» («Francisco entre a gente mais forte que o terramoto», Serena Arbizzi, O Meu Papa, ed. n.º 2, 7.04.2017, p. 12).

      Apenas o encontramos no Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora, mas não é raro vê-lo em textos em língua portuguesa, e até não assinalado como estrangeirismo, o que me parece bem. É o vinho italiano, branco, tinto ou rosé, frisante, produzido sobretudo em Módena e na Emília-Romanha, que sofre uma segunda fermentação na garrafa. Torta, tortelli, tortelloni, tortellini... O Dicionário de Italiano-Português da Porto não regista tortelli; tortelli al savòr «è una specie di marmellata, tipica della provincia di Modena, preparata senza zucchero con frutta mista e ortaggi cotti nel mosto».

 

[Texto 7687]