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Linguagista

Léxico: «co-processador»

Processemos

 

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora diz-nos que um processador é o «circuito integrado que, constituindo o órgão central do computador, tem a faculdade de levar a efeito qualquer operação sobre dados». Mais cedo ou mais tarde, a definição vai ter de ser alterada, pois com certeza se deixará de referir especificamente a um computador. Entretanto, porém, há outras minudências que merecem a nossa atenção. Por exemplo: este dicionário (e outros, claro) também regista a sigla CPU (central processing unit), outra designação por que é conhecido o processador, e a definição é «principal componente de um computador, onde se realiza o processamento da informação, e que controla e coordena a actividade de outros componentes». Salvo melhor opinião, as definições não podem ser diferentes. Mais: devia haver remissões recíprocas. Este dicionário também regista o termo microprocessador, «circuito integrado complexo que efectua as operações básicas de um microcomputador», ou seja, é essencialmente o mesmo que processador, porque todo o microprocessador é um processador, mas nem todo o processador é um microprocessador. Um microcontrolador, por exemplo, também é um processador. Falta, pelo menos, outro termo neste dicionário: co-processador, que é o microprocessador utilizado em alguma tarefa específica.

 

[Texto 7702]

Assim se vê a força das palavras

Lá vai

 

      Por vezes, mudar o k para c não resolve nada: até piora tudo. O próximo SUV da Hyundai vai ter em Portugal o nome Kauai, mas no resto do mundo será Hyundai Kona. Enfim, se ficarmos mal é pelo veículo em si, porque Kauai e Kona são, respectivamente, uma ilha e uma região do Havai, ou seja, é mais ou menos igual ao litro.

 

[Texto 7701]

«Quarteirão de sardinhas»

Ou de laranjas

 

      «Não se preocupe. O pior que lhe pode acontecer é ter de pagar um pouco mais por quarteirão porque a escassez do peixe faz disparar o preço. E deve também fazer disparar a consciência» («170 gramas por dia. Portugueses são os maiores consumidores europeus de peixe», André Rodrigues, Rádio Renascença, 11.04.2017).

      Li algures, creio que numa gramática, que quarteirão só se usa para contar sardinhas, mas não é assim. A infalível Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira afiança-nos que é para sardinhas e para laranjas.

 

[Texto 7700]

Léxico: «pousa-pés/peseira»

Antes que venha um maluquinho

 

      E já que falamos de motos, há dois vocábulos, sinónimos, que se usam todos os dias e nenhum dicionário os regista: pousa-pés e peseira. Percebe-se de imediato do que se trata, mas, ainda assim, expliquemos: é, nos motociclos, a peça, geralmente retráctil, em que se pousam os pés. Praticamente tudo tem nome, mas os lexicógrafos têm de ajudar, registando-os. Se não o fizerem, estão a contribuir para que venha aí um maluquinho propor — porque é intraduzível para português, argumentará — que se diga footpeg.

 

[Texto 7699]

Léxico: «ciclística»

Não é da bicicleta

 

      «Os 9,6cv do motor [da Goes G 125 GT] são suaves e proporcionam uma aceleração suficiente em percurso urbano para ultrapassar as diferentes situações de trânsito, enquanto a ciclística, sem ter a vivacidade própria dos modelos mais pequenos, é suficientemente ágil para que a coloquemos onde seja necessário» («Exuberância e polivalência», Alberto Pires, «Fugas»/Público, 5.11.2016, p. 26).

      É em vão que procuramos o vocábulo ciclística nos dicionários. Registam, sim, o adjectivo ciclístico, relativo a ciclista ou ciclismo. Ora, quando se fala — e todos os dias se fala — da ciclística de uma moto, de uma scooter, estamos a falar do conjunto de características como o tipo de quadro, suspensões dianteira e traseira, travões dianteiro e traseiro, rodas dianteira e traseira, etc.

 

[Texto 7698]