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Linguagista

Menos uma confusão

Outra bojarda

 

      Aliás, a abécula, confusionista mais trapalhão do que os jornalistas que critica, diz que a bomba matou talibãs. Confunde insurgentes com extremistas. Ah, mas esperem, ele tem uma teoria: insurgente é um horrível anglicismo! Confunde, mais uma vez, etimologia com uso histórico do vocábulo. Até me apetecia oferecer-lhe o Lexicón etimológico y semántico del Latín, de Santiago Segura Munguía, que comprei esta semana, mas eu já lhe dou tanto, quando ele nada merece, é melhor não. Lá para o Natal ocupo-me novamente de ti, não fiques ansioso.

 

[Texto 7718]

Léxico: «termobárico»

Calor e pressão

 

      «O FOAB (father of all bombs) russo é um dispositivo termobárico – uma arma que transforma o ar em fogo e tem um enorme impacto explosivo. Os dados não são oficiais, mas estima-se que a sua potencia [sic] seja o equivalente a 44 toneladas de TNT. Quatro vezes mais do que a “esposa” americana» («Bombas: na competição de quem a tem maior, quem ganha é a Rússia», TSF, 14.04.2017, 16h04).

      Enquanto a abécula, no seu peculiaríssimo idiolecto, fala do rigor na contagem dos jiadistas mortos (magna questão!), preocupemo-nos nós aqui com o desaparecimento desta palavra dos dicionários — quando já no final do anos 50 estava na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira: «Termobárico, adj. Que se refere simultaneamente à temperatura e à pressão atmosférica: as condições termobáricas do deserto.» (Não está senão na aparência relacionado, mas vejo que também não encontramos termobomba no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.)

 

[Texto 7717]

Léxico: «bojarda/bujarda»

Bojarda do dia

 

      Não vamos esperar pela «nossa especialista em língua portuguesa»: vamos mesmo nós lembrar àquela abécula que bujarda é uma coisa bem diferente de bojarda. Esta, a bojarda, é qualquer disparate ou calinada das grandes; peta; chuto violento; bujarda é um martelo com duas cabeças, usado no acabamento de cantaria. O que me espanta é que ele, armado em parvo e em olisipógrafo (ócios de funcionário público, suspeito), de certeza que já leu a expressão «pedra bujardada» (cá está mais um verbo, bujardar, ignorado pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora), mas, pelos vistos, foi conhecimento tão efémero como manteiga em focinho de cão. Não se incomodem, ele vem cá ler.

 

[Texto 7716]

Léxico: «casula»

Ninguém se importa

 

      «Procissão. Bispos e cardeais com a casula vermelha, cor litúrgica usada no Domingo de Ramos» («O papa chora pelo Egito no Domingo de Ramos», O Meu Papa, ed. n.º 3, 14.04.2017, p. 5).

      Casula, diz o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é a «veste litúrgica que o sacerdote usa sobre a alva e a estola na celebração da missa». Muito bem, é isso. Mas quem se importaria que se dissesse que a cor da casula varia de acordo com o tempo litúrgico? Essas cores, cujo uso é regulado na Instrução Geral do Missa Romano, são o branco, vermelho, verde, roxo, preto, cor-de-rosa e dourado. Usam-se ainda, fora do que está prescrito na IGMR, vestes litúrgicas de cor azul. (E, a propósito, porque não regista este dicionário o termo paramentaria, se até há estes estabelecimentos em Portugal?)

 

[Texto 7715]

Léxico: «gálago-de-cumbira»

Entretanto, no Noroeste de Angola

 

      «Numa noite de 2013, um grupo de cientistas fazia observações na natureza e ouviu uns sons diferentes na floresta de Cumbira, no Noroeste de Angola. Perceberam de imediato que eram vocalizações de um animal e que o volume do som ia crescendo. Logo lhes pareceu que deveria ser de um pequeno gálago, um género de mamífero primata de quatro patas e insectívoro. Estavam certos. O som era mesmo de um gálago, mas viriam a descobrir que é maior do que os gálagos já conhecidos. É uma nova espécie, agora designada cientificamente Galagoides kumbirensis, ou gálago-de-cumbira» («Descoberto um pequeno primata em Angola e já está ameaçado», Teresa Serafim, Público, 14.04.2017, p. 27).

      Nascido para a ciência e, logo, nascido para a língua. Gálago já o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista, dizendo que vem «possivelmente do uolof golokh, “macaco”». Não seria melhor, porque mais conforme à nossa língua, uólofe, como vejo em alguns dicionários? Até porque, afinal, ao grupo étnico dão — e bem — o nome de Uolofes. «Também designado Jalofos», remata a definição. Sendo assim, porque não há, em Jalofos, nenhuma remissão para o verbete «Uolofes»? O consultante desdotado de poderes divinatórios não vai saber, não é?

 

[Texto 7714]

Léxico: «peixe-gato-europeu»

O novo monstro do Tejo

 

      «Se por estes dias vir, junto ao Tejo, um peixe com uma boca enorme, com, pelo menos, mais de um metro e meio de cumprimento e com 50 ou mais quilos de peso a galgar a margem e engolir um pombo ou um pato, saiba que acabou de ver um siluro a caçar. Este peixe, vulgarmente conhecido como peixe-gato-europeu, é uma das 57 espécies exóticas a viverem no Tejo e uma das mais recentes a serem detectadas. Pode vir a revelar-se uma ameaça para as espécies naturais do rio. […] O siluro (Silurus glanis) é uma espécie originária da Europa Central e pode atingir mais de 2,5 metros de comprimento e mais de 100 quilos de peso. Foi detectado pela primeira vez na Península Ibérica no rio Ebro, em Espanha, em 1974. Na parte espanhola do Tejo a primeira identificação data de 1998 e na parte portuguesa apenas foi observado em 2014, embora se julgue que tenha chegado em 2006» («Há um gigante no Tejo. Pode pesar 100 quilos e ter mais de dois metros», Luciano Alvarez, Público, 14.04.2017, p. 12).

      Sim, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista siluro, mas não o nome comum, peixe-gato-europeu, e o nome comum não raro tem mais importância.

 

[Texto 7713]

Léxico: «metanogénese»

Também precisamos deste

 

      «As moléculas de hidrogénio, tal como as de dióxido de carbono, também encontradas em Encélado, são consideradas ingredientes importantes para um processo conhecido como metanogénese, uma reacção que suporta a vida de micróbios em ambientes submarinos profundos e escuros na Terra, adianta a editora da revista científica Science» («Lua de Saturno poderá suportar vida extraterrestre», Rádio Renascença, 13.04.2017, 21h45).

      É em vão que procuramos metanogénese no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Como faltam outras semelhantes, tais como acidogénese, acetogénese, etc. Mas vamos lá devagar e seguros.

 

[Texto 7712]