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Linguagista

Como se fala na televisão

E se traduz

 

      Numa passagem rápida por vários canais televisivos, li isto na CMTV: «Pacote suspeito lançou alerta junto à Casa Branca». É assim que dizemos, «pacote»? Para já, via-se que era um saco ou mochila de cor preta, mas, se queriam ser menos específicos — como fizeram vários meios de comunicação social estrangeiros —, diziam, sei lá, «volume, objecto». Mas, claro, nos tais canais lia-se «suspicious package»... Já não vi nem ouvi mais, mas não me admirava nada que acrescentassem que a «icónica» Avenida Pensilvânia fora evacuada.

 

[Texto 7723]

Léxico: «bateria»

Aceitem estas

 

      «A PSP apreendeu mais de 4.700 artigos pirotécnicos e de [...] 59 quilogramas de pólvora, numa operação de fiscalização a oito pirotecnias nos distritos de Braga, Porto e Viseu, realizada na quarta e na quinta-feira. […] Desta operação resultou a apreensão de 4.719 artigos pirotécnicos, “designadamente balonas, cabeças de foguete, foguetes e baterias”, e de 59 quilogramas de pólvora, que foram destruídos no local» («PSP apreendeu mais de 4700 artigos pirotécnicos», Rádio Renascença, 15.04.2017, 16h45).

      Pirotecnia, nesta acepção de fábrica onde se produzem artefactos pirotécnicos, já aqui tínhamos visto. Não tenho agora dúvidas de que tem uso relativamente disseminado. Basta pesquisar para encontrar Pirotecnia Oleirense, Pirotecnia das Beiras, Pirotecnia Minhota, etc. E bateria, neste sentido, para designar uma peça pirotécnica com vários disparos (16, 25, 36, etc.), também não está em todos os dicionários.

 

[Texto 7722]

«O Santana»

Ou amigalhaços

 

    «Treze anos depois, Sampaio explicou melhor: ‘fartei-me do Santana’, disse ele, com aquela elegância de tratamento (‘o’ Santana) que é o melhor auto-retrato de Sampaio» («História negra», João Pereira Coutinho, Correio da Manhã, 19.03.2017, p. 52).

    Pois, mas não falta quem defenda esta forma de tratamento, e então é «o Camões» para aqui, «o Camões» para ali, «o Marcelo» para aqui, «o Marcelo» para ali, como se se tratasse de irmãos mais novos. Em casa, muito bem; mas quando chegam às editoras e acham isto normal?

 

[Texto 7721]

Léxico: «sobredimensionar»

Está e não está

 

      «Um dos principais riscos [da proposta do Governo de criação de um regime especial e extraordinário para a instalação e exploração de novas centrais de valorização de resíduos de biomassa florestal] está ligado ao eventual sobredimensionamento das centrais de valorização de biomassa, que pode “facilmente obrigar à indesejável queima de madeiras de qualidade» («Riscos de uso da biomassa florestal», Correio da Manhã, 20.03.2017, p. 20).

      Pontas soltas: sobredimensionar está no Dicionário de Português-Inglês e no Dicionário de Verbos da Porto Editora, mas não onde, porventura, mais falta faz: no Dicionário da Língua Portuguesa. De sobredimensionamento não há rasto.

 

[Texto 7720]

«Insurgente», de novo

Já que o pedes

 

      Mas, como é Natal quando um homem quiser, ainda digo: ó abécula, que nem nome tens, não sei o que mais avulta em ti, se a ignorância, se a desonestidade. Não podes vir agora com o salvatério, que só serve para te enganares a ti mesmo, de que «insurgente» é um anglicismo semântico, porque isso apenas os outros vocábulos que referiste são: inteligência por serviços secretos; decepção por engano; revisitar por considerar por outra perspectiva, etc. (Quanto a disruptivo, há aí trapalhada tua, pois afirmas que corresponde a interrupção, quebra, corte, rompimento; um adjectivo por um substantivo?) Não emendes uma bojarda com uma desonestidade.

      Também causa espanto que a abécula, que usa uma grafia pessoal, inventada, ora menos, ora mais destrambelhada, tem dias e horas, ostente no blogue um «selo» contra o Acordo Ortográfico de 1990 (que a Ilcao devia repudiar). Abécula: seja «conformação» ou seja lá o que for, só pode ser «mal-amanhada», não «mal amanhada», isto tendo em conta que o usaste num texto com ortografia quase decente, tirando um ou outro surto psicótico.

 

[Texto 7719]