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Linguagista

Léxico: «queima/queimada»

E sardinhas

 

   «​Homem morre na sequência de queimada em Sernancelhe» (Rádio Renascença, 17.04.2017, 19h43). Embora eu só quisesse lembrar que, espantosamente, os dicionários ainda não eliminaram uma acepção antiga de queimada para designar um cardume de sardinhas, na verdade, é uma boa oportunidade para dizer que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) distingue queimada de queima: «Queimada – quando se usa o fogo para renovação de pastagens e eliminação de restolho e ainda, para eliminar sobrantes de exploração agrícola ou florestal e que estão cortados mas não amontoados.» «Queima – quando se utiliza o fogo para eliminar sobrantes de exploração agrícola ou florestais, que estão cortados e amontoados.»

 

[Texto 7732]

Léxico: «cadeia»

Cadeias boas e cadeias más

 

      «Uma aeronave despenhou-se ao final da manhã desta segunda-feira em Tires, Cascais, num parque de cargas e descargas de um supermercado da cadeia Lidl» («Cascais. Queda de aeronave em Tires faz cinco mortos», Rádio Renascença, 17.04.2017, 12h26).

     O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem várias cadeias, decerto, mas não esta, que faz muita falta.

 

[Texto 7731]

Léxico: «tartéssico»

E a língua?

 

      «O jornal El País conta que a riqueza de materiais encontrados é extraordinária, como todo o tipo de joias, pontas de lança, recipientes, restos de tecido, grades e caldeirões de bronze, que permitem conhecer melhor a cultura dos Tartessos. […] Ao longo da história e a partir de textos bíblicos tem existido especulações sobre a existência deste tipo de edifícios no período Tartéssico, mas nunca tinha sido encontrado nenhum» («Edifício com 2500 anos surpreende arqueólogos», Rute Fonseca, TSF, 17.04.2017, 17h59).

      Pois, mas no jornal espanhol não está «cultura dos Tartessos», mas «cultura de Tartessos». O adjectivo relativo a Tartessos, tartéssico (que, como substantivo, é o nome da língua e até do povo), não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. «Assim, os Fenícios deveriam ter contactos directos com os Tartéssicos, estes com as populações do Sul do actual território português e dos estuários do Tejo e Sado; finalmente, seriam talvez estes últimos os navegantes que demandavam as paragens mais setentrionais» (História de Portugal: Antes de Portugal, volume 1, José Mattoso (coord). Lisboa: Círculo de Leitores, 1992, p. 148).

 

[Texto 7730]

Léxico: «hidrante»

Oh, mais não!

 

      Há dias, quando atravessava o Jardim Silva Porto, vi, como já vira dezenas de vezes antes, hidrantes espalhados pela mata, com a sua obrigatória cor vermelha e a palavra «hidrante» inscrita para, em caso de necessidade, mais facilmente se perceber do que se trata. Pensei então que, se houver ali um incêndio, tudo ficará reduzido a cinzas, já que, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, hidrante é termo que se usa no Brasil. Cá para mim, isto foi sabotagem, só que, em vez de tamancos, os sabotadores lançaram carradas de etiquetas Brasil para dentro dos verbetes.

 

[Texto 7729]

Léxico: «multirresistente»

Muɫ.ti.ʀɨ.ziʃ.tˈẽ.tɨ

 

      «Segundo divulgou o “Expresso” no domingo à noite, a transferência foi feita para o Hospital D. Estefânia porque era a única unidade “com quartos de pressão negativa e cuidados intensivos necessários para este tipo de situações”» («23 casos de sarampo. “As pessoas têm todas que ser vacinadas”», Rádio Renascença, 17.04.2017, 10h54).

      O recurso a quartos com pressão negativa, em hospitais e centros médicos, é uma técnica que permite isolar o doente portador de uma doença altamente contagiosa por via aérea, por exemplo, a tuberculose multirresistente, a rubéola, o sarampo, entre outras, evitando a disseminação do agente infeccioso, pois o ar contido nesse quarto não vai para outras áreas. É isso mesmo, não acharia excessivo que fosse para os dicionários gerais da língua, mas há prioridades: multirresistente, por exemplo, não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, e, no entanto, encontramo-la em duas definições do Dicionário de Termos Médicos.

 

[Texto 7728]

Léxico: «turbo-hélice»

Pelo menos uma variante

 

      «Projetada e fabricada nos Estados Unidos pela Piper Aircraft a partir da década de 60, tem a vantagem técnica dos aviões de propulsão turbo-hélice, nomeadamente conseguir atingir uma altitude e uma velocidade mais elevada de cruzeiro» («As características e as imagens da aeronave que caiu em Tires», TSF, 17.04.2017, 14h12).

   O vocábulo turbo-hélice, como já aqui vimos, não está nos dicionários gerais da língua publicados em Portugal. O VOLP da Academia Brasileira de Letras, pelo contrário, regista tanto esta variante como turboélice, em que o h etimológico desaparece, à semelhança de muitas outras, como «lobisomem», «desonra», «inábil».

 

[Texto 7727]