Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Cognome ou atributo?

Ainda bem que pergunta

 

      Robin dos Bosques, mas Reginald Front-de-Bœuf? Não pode ser; mas avançámos um pouco, pois muitos já se tinham esquecido de que para nós sempre foi Robin dos Bosques, e não Robin Hood. Tem de ser, então, Reginaldo Cabeça de Boi. Por vezes, não sei porquê, também se vê o cognome com hífenes. O cognome... mas será mesmo cognome, ou é atributo? Já Ricardo Coração de Leão nunca vi com hífenes, e não é exactamente igual? E então, cognome ou atributo?

 

[Texto 7841]

Léxico: «ciclotossauro»

Acabadinho de chegar do frio

 

      «Uma nova espécie de anfíbio, com 208 milhões de anos, o maior descoberto até à data na Gronelândia, foi anunciada por uma equipa internacional que integra os paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa Octávio Mateus e Marco Marzola. […] O ciclotossauro [Cyclotosaurus naraserluki] da Gronelândia viveu há 208 milhões de anos, no Triásico, no início da evolução dos dinossauros, e permite aos paleontólogos melhor compararem fósseis de faunas escavadas em diferentes continentes» («Tem 208 milhões de anos e 2,5 metros. É o maior anfíbio da Gronelândia», Rádio Renascença, 17.05.2017, 10h41).

      Não precisamos de uma comissão de sábios: podem levá-lo para os dicionários. É também aí que tem de estar fossilizado.

 

[Texto 7840]

Léxico: «quiniaruanda»

Pelo menos as línguas

 

      Estou aqui a rever um texto sobre a literatura infanto-juvenil em África e leio que «Agnes Gyr-Ukunda, à frente da editora Bakame Éditions, no Ruanda, cria e produz histórias de qualidade, que se alimentam da cultura local e na língua nacional quiniaruanda». Os nomes das línguas deviam estar, e não é a primeira vez que o afirmo, nos nossos dicionários. África... Sabiam que no Uganda um livro infanto-juvenil pode custar o equivalente a um salário médio? E no Ocidente, em Portugal? Tal como tudo o resto, mandam-se milhares de livros para o lixo!

 

[Texto 7839]

Léxico: «lesbofobia»

Discriminatório

 

    Esta quarta-feira, 17 de Maio, é Dia Mundial de Luta contra a Homofobia, Lesbofobia e Transfobia. Sabiam? Ah, não sabiam... Então, também não puseram os atacadores coloridos. Bem, mas quanto à língua: aqui, os dicionários, entre os quais o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, discriminam, pois acolhem os termos homofobia e transfobia, mas não lesbofobia (ou lesbifobia), e isso não é bonito. São todos eles termos legítimos (ou nenhum o é). Como muitos indivíduos criticavam o termo «homofobia», por reivindicarem uma especificidade da violência que os atingia, cunharam-se estes novos termos. Não nos iludamos: uma das condições para reconhecer as realidades é admitirem-se os termos que as designam.

 

[Texto 7838]

Léxico: «sincrotrónico»

Falta sempre algum

 

      «É o primeiro acelerador de partículas internacional do Médio Oriente e tem a sede em Allan, perto de Amã, capital da Jordânia. Ontem, esta grande máquina que produz radiação sincrotrónica — feixes de raios X intensos — foi inaugurada e um dos seus trunfos é a junção de dez países do Médio Oriente, alguns com relações tensas. […] Este sincrotrão do Médio Oriente vai permitir estudar as propriedades de novos materiais e de objectos arqueológicos de forma muito pormenorizada, assim como ver células humanas, vírus ou proteínas até ao nível dos átomos» («Houve festa na máquina de raios X que tenta unir o Médio Oriente», Teresa Serafim, Público, 17.05.2017, p. 25).

      Ao que me parece, nem sequer um dicionário regista sincrotrónico, e, contudo, sincrotrão está em todos.

 

[Texto 7837]