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Linguagista

Léxico: «repositório»

Espanta-te mais

 

      Quando regressava do duelo em que se batera com o cavaleiro de Beauvoisis, Sorel viu uma coisa que o deixou de boca aberta, tal o espanto: no meio da rua, estava a ser construído um repositório para a procissão do Corpo de Deus que obrigou a carruagem a parar por uns instantes. Ah, Sorel, Sorel, espanta-te ainda mais: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista esta acepção da palavra repositório. Perderam parte do verbete quando ainda não havia computadores.

 

[Texto 7954]

«Brexit»: como se pronuncia?

Boa desculpa

 

      Há meses que ando a reparar que nem toda a gente pronuncia a palavra brexit da mesma maneira. David Shariatmadari, jornalista do jornal The Guardian, reparou no mesmo e escreveu um artigo sobre a questão. Por cá, a palavra até já foi para alguns dicionários gerais da língua. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exemplo, regista a pronúncia /ˈbrɛɡzit/, que por acaso não é a que eu uso. E digo sempre /'brɛk.sɪt/. Bem sei que «um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro», mas se a palavra já está nos nossos dicionários...

 

[Texto 7953]

O processo dos Távoras

O azar dos Távoras

 

      No programa Visita Guiada, Paula Moura Pinheiro, agora com o cabelo mais domado, para alívio dos nossos nervos, levou-nos ao Museu Nacional dos Coches (MNC), instalado em novo edifício. «Foi num carro destes», disse, apontando para uma carruagem, «que o rei D. José sofreu [em 3 de Setembro de 1758] o atentado que viria depois a servir de argumento para o processo dos Távora.» Lamentável, tanto mais que, no caso, habitualmente até se vê o apelido pluralizado — como todos o devem ser. Aqui há uns anos, passou na RTP uma minissérie, da autoria de Francisco Moita Flores, com o título O Processo dos Távoras. E também não faltam obras com o mesmo título. A meu ver, até devia dicionarizar-se a expressão azar dos Távoras.

 

[Texto 7952]

O verbo «haver», mais uma vez

Já é azar

 

    O quê, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o adjectivo estarrecedor? É estarrecedor! Ainda mais estarrecedor: o Mata-Bicho de ontem voltou a escorregar no verbo haver, esse malvado que tem de ser descomplicado por decreto. Eu não acredito que João Quadros seja indocível, mas também já é azar que Bruno Nogueira padeça da mesma ignorância e não corrija o texto. E na RDP ninguém diz nada? Muito estranho. «No jornal espanhol El Mundo, apareceu uma notícia onde dizem que o incêndio em Pedrógão pode pôr em causa o futuro de António Costa como primeiro-ministro, e que provavelmente vão haver eleições no fim do Verão.»

 

[Texto 7951]

De novo o verbo «haver»

Nem tudo vai bem

 

      Não fui eu que vi, mas confio como Passos Coelho não devia ter confiado: um amigo meu viu anteontem um DVD do drama político Tout va bien, de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin, numa edição de 2013. Tudo correcto, com o selo da IGAC, mas quem vê capas, já se sabe, não vê o conteúdo. Logo no início, uma sequência diabólica de frases: «Nessa cidade haveriam casas»; «Haveriam muitas pessoas»; «Haveriam trabalhadores»; «Haveriam agricultores». Para a posteridade: tradução e legendagem de Elisa Pires de Carvalho. Quantos anos de exercício da actividade teria quando traduziu este filme? Vinte ou mais, e eis este erro estarrecedor. Pode ser o pior erro da tradução, mas não é o único.

 

[Texto 7950]