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Linguagista

Léxico: «stickman»

Outra dose diária não recomendada

 

      «É a mais recente novidade da colecção Youcat, lançada pela Paulus Editora. Com recurso a stickman e citações, para ajudar a que [sic] Palavra de Deus faça parte do dia a dia [sic] dos mais novos, e de todos os que queiram crescer na fé» («“Bíblia Jovem Youcat”: um livro de consulta fácil que “não é para ficar na prateleira”», Ângela Roque, Rádio Renascença, 24.07.2017, 14h15).

      Francamente, esta dose é pior. Como raio vai o leitor saber, assim do pé para a mão, o que é um stickman, alguém me pode responder? O Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, para não ir mais longe, nem sequer regista o termo. Alguns dicionários de inglês dizem que é «a human figure drawn in thin strokes». Um boneco esquemático? E não se tinha de usar ali o plural, «stickmen»?

 

[Texto 8057]

Léxico: «tranvia»

Isso era dantes

 

      «À semelhança das suas “irmãs” da mesma série, a UTE2001 atingia uma velocidade máxima de 90km/hora e contava 248 lugares, dos quais 180 em segunda classe e 68 em primeira classe. Sim, à época os comboios suburbanos — designados “tranvias” — tinham primeira classe» («Primeira automotora eléctrica da linha de Sintra vai ser destruída», Carlos Cipriano, Público, 25.07.2017, p. 16).

      Estávamos então mais próximos da união ibérica: tranvia vem do castelhano tranvía. Entretanto, nós deixámos de usar a palavra.

 

[Texto 8056]

Léxico: «sucatear»

Por uma vez

 

      «Na petição online que apela à sua preservação, refere-se: “Sucateá-la seria uma perda irreparável, uma vez que perderíamos um exemplar das primeiras UTE, [pois] esta automotora não será apenas o símbolo desse importantíssimo dia para o nosso caminho-de-ferro, como é o símbolo do que foi o serviço suburbano e regional da última metade do século XX”» («Primeira automotora eléctrica da linha de Sintra vai ser destruída», Carlos Cipriano, Público, 25.07.2017, p. 16).

      Neste caso, creio que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem razão: sucatear («transformar em sucata/vender como sucata») é brasileirismo.

 

[Texto 8055]

Actos inúteis

Dose diária não recomendada

 

     «A ASUS anunciou recentemente um novo e ambicioso desafio: o de reciclar 20% do seu lixo eletrónico global (e-waste) até 2025» («Reciclar um quinto do lixo eletrónico», Destak, 25.07.2017, p. 11).

      Ora cá temos a nossa dose diária de inglês desnecessário. Senhores jornalistas, que relevância tem o leitor ficar a saber que «lixo electrónico» se diz em inglês «e-waste»?

 

[Texto 8054]

Como se escreve nos jornais

Olhem, é assim

 

      «O Discovery Channel anunciou que o mito olímpico Michael Phelps ia fazer uma corrida com um tubarão branco, mas só no final os desconsulados espectadores perceberam que se tratava de um duelo contra um tubarão... criado por computador» («Phelps contra um PC desilude», Destak, 25.07.2017, p. 8).

      Então, «consulado», «desconsulado», não é? A lógica deve ser a de que, como é um jornal gratuito, os leitores não merecem mais. O brio profissional e o amor à língua são desconsoladoras fantasias para eles.

 

[Texto 8053]

Como se escreve nos jornais

Só perguntas

 

      «Atinge 6% da população mundial, na sua maioria (90% dos doentes) mulheres e tem como principais sintomas comportamentos repetitivos e impulsos ligados a uma sensação de tensão e ansiedade crescente que só passa com a compra. […] A também denominada Perturbação Compulsiva por Compras surge no final da adolescência ou na segunda década de vida e, sem causas conhecidas, crê-se que esteja ligada a fatores neurobiológicos, genéticos e psicológicos» («Impulso doentio pelas compras», João Moniz, Destak, 25.07.2017, p. 5).

      João Moniz, a letra grelada no nome da doença é para quê? Acha que a oniomania merece mesmo essa deferência tão especial? E diz-se «impulso por» ou «impulso para», o que acha?

 

[Texto 8052]