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Linguagista

Uma questão menor

Desisto

 

      «Chega-me dia sim, dia não propaganda para frequentar workshops com um impressionante leque de propostas e tendências. Nos últimos tempos estive tentado — e só resisti porque não sei meter o cartão de crédito nos pagamentos online — a inscrever-me em formações para ser especialista em cozinha tailandesa, mental coacher, hipnoterapeuta, aprender os segredos do emagrecimento com a dieta paleolítica — logo eu, que só como dieta mediterrânica, principalmente na parte da orelheira. Poderia continuar a desfiar workshops, por exemplo[,] de apicultura, de erbanária tradicional, de técnicas faciais anti-ruga ou de escrita criativa. Considero este último o mais perigoso, pelo risco de ficarmos nas mãos de algum dos escritores a metro que medem o êxito pelos “gosto” no Facebook. Só não vi ainda — e era logo nesse que queria mesmo inscrever-me — um workshop de iniciação ao vocabulário do politicamente correto» («Conselhos inúteis para reaprender a falar», Luís Fernandes, Público, 26.07.2017, p. 46).

    Ao contrário do que eu pensava, talvez, neste caso, não interesse muito saber que norma ortográfica seguiu o autor. Que acham?

 

[Texto 8061]

Tradução: «attorney general»

Olhem que não

 

      «Foi o principal conselheiro do candidato e do Presidente eleito sobre imigração, e o seu nome chegou a ser referido para a vice-presidência — Trump acabou por escolher o governador Mike Pence para esse papel e deu a Sessions um dos cargos mais poderosos do Governo americano: attorney general, um cargo que só existiria em Portugal se o ministro da Justiça também fosse procurador-geral da República» («A semana vai a meio e na Casa Branca cheira a Massacre de Sábado à Noite», Alexandre Martins, Público, 26.07.2017, p. 22).

      Talvez se possa explicar assim, está bem. Por aqui ainda só passou o US Attorney. Ora, para attorney general, o Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora propõe que se traduza por... «Procurador-Geral da República».

 

[Texto 8060]

Léxico: «ecoendoscopia»

Coitados

 

      «O Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Santo André, em Leiria, já dispõe de um novo equipamento que permite realizar o exame de ecoendoscopia digestiva» («Leiria tem novo exame médico», Correio da Manhã, 25.07.2017, p. 28).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é que ainda não dispõe de ecoendoscopia. Os doentes têm de ser transferidos para outro dicionário.

 

[Texto 8059]

Adeus, gramática

E a concordância?

 

      Hoje comemora-se o Dia Metropolitano dos Avós no Europarque, em Santa Maria da Feira. Não sabia que havia dias metropolitanos... Bem, vamos aos jornais: «Em cima do parque de estacionamento subterrâneo, além da estátua equestre assente num passeio compacto de pedra, sem lugar a canteiro ou arbusto raquítico que seja, pousam agora além dos pombos – coitados, que esses não ocupam por muito tempo espaço –, táxis e tuk-tuks alinhados em filas, qual gatos à caça dos turistas que enchem esta Lisboa que já não é a de outrora» («Boa para ver de longe», Fernanda Cachão, Correio da Manhã, 25.07.2017, p. 2). E a concordância, Fernanda Cachão? Veja: «Sempre seguidos por bodyguards façanhudos, vestidos de preto, como se fossem a nossa sombra, foi divertido e grotesco vê-los correrem na praia, ofegantes, quais gatos-pingados, atrás de nós quando, descontraídos, resolvemos, em calções de banho, fazer um crosse na praia» (Quase Memórias: Da Descolonização de Cada Território em Particular, vol. 2, António de Almeida Santos. Lisboa: Casa das Letras, 2006, p. 36).

 

[Texto 8058]