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Linguagista

Léxico: «anestesista/anestesiologista»

Quase uma história

 

      O Shazam também se engana? Ponho-o a ouvir uma música e em segundos informa-me de que se trata de Early Edition, do DJ Stile. Segundos mais tarde, ponho-o a ouvir a mesma música e diz-me que se trata de Full Moon Party, de Mastercris. Percebo porquê — é uma mistura. No entanto, vai enganar muita gente. Esta música, que se tornou conhecida quando serviu de banda sonora à passagem de Madonna na Met Gala de 2016, é da autoria do português Cristóvão Mestre, «anestesiologista no Hospital Lusíadas Albufeira e DJ — hoje em dia mais afastado das pistas de dança» (Lusíadas, Inverno de 2016, p. 10). A questão já passou em 2011 aqui pelo blogue, mas ei-la de novo: porque diferem as definições de anestesista e anestesiologista no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora? E diferem tanto, na verdade, que ficamos com a certeza de que se trata de duas coisas diferentes.

 

[Texto 8076]

Sobre «autotanque»

Muitas dúvidas

 

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ensina que um autotanque é o «veículo automóvel para transporte de líquidos», e exemplifica: «água, vinho, gasolina». Falta ali um «etc.», pois um autotanque também transporta leite, óleo, etc. ⤶ E autotanque não é sinónimo de camião-cisterna? Se é, porque tem uma definição substancialmente diferente naquele dicionário?

 

[Texto 8075]

Como pensam no Ministério Público

Mal, ao que parece

 

      «No âmbito de um inquérito, dirigido pelo Ministério Público, onde se investigam as circunstâncias do acidente com uma avioneta que aterrou ontem de emergência numa praia da Costa de Caparica, foram, hoje, ouvidos, na qualidade de arguidos, o piloto e o tripulante» (excerto da nota do Ministério Público para a comunicação social).

      Vamos lá ver: tripulante não é a pessoa que faz parte da tripulação de um avião? Então, são ambos, piloto e co-piloto, tripulantes. Assim, há dois tripulantes, ou o piloto e o co-piloto.

 

[Texto 8074]

Léxico: «dismetria»

Não é no cerebelo

 

      Agora a podologista/podóloga/podiatra quer que eu vá fazer uma radiografia dos membros inferiores para despiste de heterometria. Oh meu Deus, mas isso é ser igual a 90 % da população mundial! Não se nota nada, mas enfim. O que se nota e bem é que dismetria, sinónimo de heterometria, não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora; apenas noutra acepção o encontramos: «MEDICINA perturbação da mobilidade motivada por lesão do cerebelo». Abrenúncio! Já em relação ao trio podologista/podólogo/podiatra, há outro problema: este último só o encontramos no Dicionário de Termos Médicos. Não faz sentido. E reparei que o VOLP da Academia Brasileira de Letras não regista os dois primeiros, podologista e podólogo. Não se usam no Brasil?

 

[Texto 8073]

Léxico: «garo»

Em português

 

      «As escavações de Junho “deram mais pistas para datar o fim da produção de garum [pasta de peixe feita das vísceras de atum ou cavala, misturadas com outros peixes] neste complexo”, da qual Tróia se tornou imagem de marca no Império Romano» («Encontrados vestígios dos últimos romanos que passaram em Tróia», Público, 3.08.2017, p. 13).

      Senhora arqueóloga, se a palavra já está aportuguesada — garo —, não deve usar a palavra latina. Senhor jornalista, se a palavra é latina, garum, tinha de a grafar em itálico.

 

[Texto 8072]