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Linguagista

«Moção de censura/moção de confiança»

Não é isso

 

      Com a moção de censura na ordem do dia (boa altura para Assunção Cristas se pôr em bicos de pés), vamos ver o que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora diz. Moção de censura: «proposta pela qual um ou mais grupos parlamentares criticam a política do governo, procurando levar à sua demissão, caso a moção obtenha a maioria dos votos». Está ou mal redigido ou incompleto, como quiserem. Nos termos da Constituição (artigo 194.º), a Assembleia da República pode votar moções de censura apresentadas por iniciativa de um quarto dos deputados em efectividade de funções ou por iniciativa de qualquer grupo parlamentar. Agora é um quarto como, numa eventual revisão constitucional, pode ser outra percentagem. Sobre moção de confiança, regista: «proposta apresentada pelo governo ou por um grupo parlamentar com o objectivo de levar a assembleia a adoptar um voto de confiança em relação a uma medida ou a um programa político». O artigo 193.º (cuja epígrafe é, significativamente, «Solicitação de voto de confiança»), contudo, que prevê esta matéria, não nos diz que essa proposta pode ser apresentada por um grupo parlamentar ­— logo, é porque não pode, o que faz sentido. «O Governo pode solicitar à Assembleia da República a aprovação de um voto de confiança sobre uma declaração de política geral ou sobre qualquer assunto relevante de interesse nacional.»

 

[Texto 8235]

Léxico: «pedogenético»

Também não estão

 

      A minha filha está aqui a fazer os TPC, uma ficha sobre o solo, e há pelo menos uma palavra que não encontramos nos dicionários: pedogenético. E mesmo o substantivo, pedogénese, não está, nesta acepção, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Neste, está assim: «reprodução (partenogenética) de um animal no estado larvar». Ora, em relação ao solo, a pedogénese diz respeito à sua formação. Mais. Na definição de horizonte, lê-se naquele dicionário: «cada uma das camadas do solo, com espessura relativamente pequena, que se distinguem entre si pela cor, textura e composição química». Talvez essa «espessura relativamente pequena» seja correcta no respeitante aos horizontes O, A e até B, mas não a todos eles.

 

[Texto 8234]

Léxico: «horrorismo»

Fingimos?

 

      «O suicídio-assassínio em massa é mais do que terrorismo: é horrorismo» (O Segundo Avião, Martin Amis. Tradução de Jorge Pereirinha Pires. Lisboa: Quetzal Editores, 2011, p. 76). Claro, sim, é tradução: «Suicide-mass murder is more than terrorism: it is horrorism.» Acontece que de vez em quando topo com a palavra. Que faço, que fazemos: fingimos que não existe? Ao que parece, foi a filósofa italiana Adriana Cavarero (n. 1947) quem inventou o termo para designar a violência contemporânea.

 

[Texto 8233]

Dicionários: faltas e anomalias

Teratologia dicionarística

 

      Estive a pesquisar nos dicionários aranha no sentido de pele do escroto. Nada. No Dicionário de Termos Médicos da Porto Editora, encontrei, no verbete dartos (e porque não está este no Dicionário da Língua Portuguesa, pode saber-se?), esta coisa estranha: «Membrana do escroto, situada a seguir à pele, composta por fibras musculares lisas, fibras conjuntivas e fibras elásticas, que se prolonga para o abdómeneo, e períneo, onde se insere.» «Abdómeneo»? Não será antes «para o abdómen e o períneo»?

 

[Texto 8232]