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Linguagista

Léxico: «sobrepesca»

Deve pois

 

      «“Há relatos de que a liderança tem dado ordens à frota pesqueira para aumentar as capturas de peixe”, disse Kingston [director de Estudos Asiáticos da Universidade Temple no Japão] à emissora pública alemã. E os pescadores são forçados a ir cada vez mais longe, por causa da sobrepesca — norte-coreana e também chinesa» («É a fome que está a levar “barcos fantasma” norte-coreanos ao Japão?», Clara Barata, Público, 3.12.2017, p. 19).

      Não é meramente uma palavra — é um conceito. Deve ir, por isso, para os dicionários.

 

[Texto 8430]

Como se escreve no Facebook

E nas escolas

 

      No exame de História, um aluno dissertou sabiamente sobre o «Tratado de Traduzilhas»; no Facebook, Pedro Marques Lopes escreveu que, no Observador, «a opinião faz parte de um projeto para mudar o centro-direita português e é apenas planfetária». Não soa nada mal, convenhamos: se precisarem de uma palavra para designar uma realidade nova (um lepidóptero que descubram, por exemplo), não se acanhem.

 

[Texto 8429]

Cães de assistência

Estariam no sítio certo

 

      «A APCA certifica e treina cães que conduzem e auxiliam pessoas com deficiência, sejam eles “cães-guia” (que auxiliam pessoas com deficiência visual), “cães para surdos” (ajudam pessoas com deficiência auditiva), ou “cães de serviço” (auxiliam pessoas com deficiência mental, orgânica, motora ou sensorial). A associação orgulha-se de ser a única entidade certificadora de cães de assistência na área dos medical dogs. Embora os cães-guia para cegos sejam treinados formalmente há mais de 70 anos, só em 2007 foram feitas alterações na lei que permitiram o aparecimento de um termo mais abrangente, o “cão de assistência”» («Estado vai dar apoios para cães de assistência? “É a melhor notícia no ano”», Ana Cristina Henriques, TSF, 3.12.2017, 10h54).

      Alguns termos vão, mais tarde ou mais cedo, parar aos dicionários. Cão-guia, por exemplo, está quase exaustivamente definido, e bem, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 8428]

Como se escreve por aí

O caso Sócrates

 

      A edição digital do jornal Sol fez a pré-publicação de um excerto do 2.º capítulo do livro Caso Sócrates – O Julgamento do Regime, de Felícia Cabrita e Joaquim Vieira (Lisboa: A Esfera dos Livros, 2017). Vejamos umas quantas frases.

      «[Sócrates] Percorre, imperturbável, toda a manga. No fim, está um grupo de homens parados em pé — dois da AT, três da Alfândega e os agentes da PSP —, que, com o olhar, perscrutam os passageiros. Fixam-se no indivíduo do dólmen escuro escuro e não têm dúvidas.» Até a minha filha sabe o que é um dólmen: se Sócrates fosse um dos Flintstones, talvez pudesse vestir-se dessa maneira. Vejam bem como se escreve a palavra que designa o casaco curto semelhante ao usado pelos oficiais do exército. Mais tarde, quando acompanha os agentes à sua casa, perguntam-lhe onde está o computador: «O dono da casa reencontrara-se com a sua anatomia, recuperara do golpe assestado ao seu orgulho no dia anterior e garantia que o levara para a capital francesa. Não perde a oportunidade e humoriza: “Se quiser falar com o juiz para irmos a Paris, com todo o gosto.”» Reencontrar-se com a sua anatomia devia reservar-se para a descrição do que sente um amputado a quem põem uma prótese ou aquele a quem extraem um tumor com vários quilos. Quanto a humorizar, para um brasileiro, deve ser normal, mas algum leitor português se exprime assim? Como está em pré-venda, talvez ainda possa ser revisto.

 

[Texto 8427]