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Linguagista

«Amigo pessoal»

Pois, sim, mas...

 

      «Afirmando que o homenageado “está bem vivo connosco, por tudo aquilo que fez”, Oliveira Martins concluiu a sua brevíssima introdução confessando a “emoção” de ver Eduardo Lourenço, “um companheiro tão presente nas peregrinações do Eduardo”, na “primeiríssima fila”. Havendo gracejado sobre essa estranha expressão corrente, “amigo pessoal”, Teresa Villaverde recordou entretanto a sua amizade com [Eduardo] Prado Coelho: “As pessoas que tiveram a sorte de ser suas amigas sabem que ele era uma pessoa divertidíssima”, que não falava só “de coisas muito sérias”» («Eduardo Prado Coelho para sempre», Mário Santos, Público, 8.12.2017, p. 35).

      Também a tenho por toleima e jamais saiu dos meus lábios — mas encontro-a em Camilo. Na boca de uma personagem, é certo, mas revela pelo menos que não é coisa nova como se diz.

 

[Texto 8453]

Léxico: «poteiro»

Discriminação

 

      «No século XVII, os ofícios ligados aos barros de Estremoz (oleiros de barro fino, oleiros de barro grosso, telheiros e poteiros) eram profissões exercidas por homens, certamente com algum contributo feminino na área da decoração e dos acabamentos, mas o de bonequeira, exercido por mulheres, não era considerado, como refere o Livro das Taxas dos Ofícios de Estremoz, 1675-1732» («Foi arte de mulheres anónimas, é Património da Humanidade», Carlos Dias, Público, 8.12.2017, p. 32).

     Telheiro muito bem, mas poteiro foi extinto pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 8452]

Léxico: «mantélico»

Falta sempre alguma

 

      «Embora não possamos lá chegar, as erupções vulcânicas arrastam até nós, por exemplo, xenólitos — fragmentos de uma rocha encapsulada por outra rocha maior —, que permitem compreender o que por lá se passa. [...] A sua separação foi causada, entre outros factores, pela ascensão de uma pluma mantélica do manto profundo [fenómeno geológico que consiste na ascensão de um grande volume de magma], que quebrou a crosta muito mais frágil e fina» («O ouro das estrelas foi parar ao manto da Terra», Raquel Dias da Silva, Público, 8.12.2017, p. 31).

      Xenólito está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas, valha a verdade, a jornalista explica-o de forma muito mais clara. Mantélico, porém, aquele dicionário não regista e, o que ainda é pior, está nos textos de apoio da Infopédia. Pontas soltas.

 

[Texto 8451]

Constituições espanholas

Interessante

 

      Já me esquecia de dizer que anteontem foi feriado, Día de la Constitución, em Espanha. E sabiam que as constituições têm nome, pelo menos popularmente, em Espanha? A Constituição de 1812, por exemplo, tem o nome de La Pepa, porque foi aprovada a 19 de Março, Dia de São José. A que está actualmente em vigor é La Nicolasa, porque foi aprovada a 6 de Dezembro, dia de São Nicolau.

 

[Texto 8450]

Léxico: «portão»

Brasileirismo? Hum...

 

      «Para mais, todas as versões do Panamera Sport Turismo oferecem, de série, o portão traseiro com abertura e fecho eléctricos e o banco posterior rebatível electricamente a partir da mala, na proporção 40/20/40, o que permite expandir a capacidade da bagageira até um máximo de 1.390 litros (1.295 litros na variante híbrida)» («Panamera Sport Turismo. Aí está a super carrinha [sic]», António Sousa Pereira, Observador, 2.03.2017).

      Já ando há algum tempo a ler e a ouvir a palavra portão para designar a porta traseira dos carros e talvez sobretudo de carrinhas. Como em inglês é tailgate, que é sobretudo «portão», foi só copiar. E, já que estamos aqui, vejo que, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, a última acepção de «portão» é um brasileirismo, um sinónimo de «cancela». Há-de ser outro falso brasileirismo, pois na Beira Alta às cancelas já ouvi chamar portão.

 

[Texto 8449]

Léxico: «teque»

E até se usam mais

 

      «Maria Inácia começa por esticar o barro antes de desenhar a saia do próximo “Amor Cego”, um dos membros do figurado de Estremoz, com os olhos vendados. Barro sobre barro e sem recurso a cola, os bonecos lá ganham forma num artesanato à moda antiga, que utiliza apenas o canivete e o teque. O resto é feito com as mãos da artesã, como manda a tradição» («As irmãs de Estremoz que herdaram a tradição dos bonecos de barro», Roberto Dores, TSF, 7.12.2017, 10h59).

      É esse o nome, sim, teque, que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define assim: «instrumento próprio para trabalhar o barro, geralmente de madeira ou plástico, que tem a forma de uma haste fina com uma extremidade que pode ter diferentes formas (curva, espalmada, etc.) consoante se pretenda moldar, escavar, sulcar, etc.». Na verdade, há teques duplos. Aquele dicionário diz-nos também que o étimo é o inglês tackle, e é provável, sim, embora este termo designe genericamente o equipamento requerido para a prática de uma tarefa ou desporto. É mais uma razão para não compreender porque não registam, por exemplo, crenco e quico, que vimos aqui e aqui.

 

[Texto 8448]

Léxico: «melão»

Pois é

 

    «Quando vimos o que foi dito ao longo destes dois anos, por dirigentes do PSD e por comentadores que nunca esconderam a sua animosidade, relativamente à actual situação governativa, e, em particular, pela actuação do ministro Mário Centeno, e até tudo foi feito para o tentar derrubar, acho que certas pessoas – e aqui vou usar o vernáculo – estarão com um grande melão. Isto deita por terra o que foi dito nos últimos anos», disse o deputado António Filipe em entrevista à TSF. Camarada, não diga isso ao Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que ele não sabe o que significa.

 

[Texto 8447]