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Linguagista

«Herdeiro da parada»?

Subiu a parada e perdeu

 

     «Paula Brito e Costa, nascida Paula Cristina de Brito Cardoso da Costa (sem “e”) há 51 anos, é natural de Loures — recebeu, inclusive, uma medalha de ouro da Câmara Municipal de Odivelas» («Paula Brito e Costa. A mulher que deixou um quiosque de jornais para se dedicar à Raríssimas», Ana Cristina Marques e Sónia Simões, Observador, 12.12.2017).

      Podia ser bem pior, convenhamos: imaginem que lhe dava na veneta e queria ser Paula von Brito e Costa. Tudo normal. O que me fez espécie foi ela dizer que o filho era o «herdeiro da parada». O que significa isto?

 

[Texto 8471]

Léxico: «Hanucá»

Matam-nos

 

      «A Comunidade Israelita de Lisboa assinala na quarta-feira, dia 13, de forma pública, a festividade do hanucá, ou a festa das luzes, com uma cerimónia pública no Parque Eduardo VII. Durante a cerimónia, aberta a todos, acender-se-á a segunda luz da menorá, o candelabro de nove braços que se tornou um dos símbolos da resistência dos judeus à assimilação» («Judeus em Portugal continuarão a florescer. “Já sobrevivemos a desafios bem maiores”», Rádio Renascença, 12.12.2017, 22h16).

      Não devia ser tudo com maiúsculas iniciais? Sim: Hanucá ou Festa das Luzes. E feminino ou masculino? Na Infopédia, só a encontramos no dicionário de Alemão-Português. Lichterfest. Peçamos, então, como o outro: «Mehr Licht, mehr Licht.» Isto é mais do que frustrante, é apoplexante.

 

[Texto 8470]

Léxico: «tintar»

Podia ser pior

 

      «De resto, a mesma Unidade Nacional Contraterrorismo que, na madrugada desta segunda-feira, depois de o gang ter sido apanhado por mais um assalto à bomba a caixas multibanco, apreendeu ao chefe do grupo sacos do lixo cheios de notas das ATM – que os bancos continuam a não tintar» («Carros de luxo lavam fortuna das explosões», João Tavares, Correio da Manhã, 12.12.2017, p.12).

    Está, vi-o agora, em alguns dicionários, nanja no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. De facto, não se pode dizer pintar; mas podia, ao que me parece, usar-se o verbo tingir. Mas esperem: na Infopédia vamos encontrar o verbo tintar no verbete «inchiostrare» do dicionário de Italiano-Português. Isto é mau, e até péssimo por se repetir tanto: um dicionário não pode usar, nas definições, vocábulos que não regista, que não define. (Mas festejemos: a maioria dos jornalistas já sabem que é «contraterrorismo» que se tem de escrever. Só é pena o «gang», pois temos, por exemplo, «quadrilha»; por sorte, o jornalista lembrou-se de usar «chefe» e não «líder».)

 

[Texto 8469]

Como se escreve nos jornais

Ou neste, concretamente

 

      Vejam este título do Correio da Manhã de ontem: «IURD exporta crianças com aval do Estado». É como se estivessem a referir-se a melões ou a pastéis de nata. Exportar crianças... Querem pior? Está bem: «Edi tem apenas 17 anos, mas já está em prisão preventiva pelo homicídio de Nuno Cardoso, o segurança da discoteca Barrio Latino executado com um tiro na cabeça, na sexta-feira» («Preventiva para jovem homicida de segurança», João Carlos Rodrigues, p. 48). Executado...

 

[Texto 8468]

Mais tempestades

O nome diz tudo (ou não)

 

      «Não se sabe ao certo quando acontecerão mas, pelo menos, já têm nome. Agências meteorológicas de Portugal, Espanha e França criaram uma lista de nomes, alternando femininos com masculinos, para identificar fenómenos extremos que venham a atingir o sul da Europa. [...] Depois disso, virão a Carmen, o David, a Emma e por aí adiante, seguindo a ordem do alfabeto. A primeira foi Ana: mais de 3 mil ocorrências, uma vítima mortal, voos cancelados, barras encerradas. [...] Com recurso a modelos estatísticos, os cientistas concluem que as tempestades com nomes femininos causam o triplo das vítimas mortais do que as baptizadas com nomes masculinos» («Bruno e Carmen. As próximas tempestades a atingir Portugal já têm nome», André Rodrigues, Rádio Renascença, 13.12.2017).

      Ficamos assim a saber mais. E também rimos mais: «os cientistas concluem que as tempestades com nomes femininos causam o triplo das vítimas mortais do que as baptizadas com nomes masculinos». O jornalista, contudo, acrescenta: «O estudo é controverso. Até porque a hipótese inicialmente avançada por estes investigadores toca na sensível questão do sexo forte.»

 

[Texto 8467]

Bufos fora dos dicionários

Pelo menos as principais

 

      Ontem, a menina *** teve o prazer de pegar, devidamente protegida com uma luva de falcoeiro, num bufo-real (Bubo bubo) e num mocho-pigmeu (Glaucidium passerinum), nenhum deles no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Como é que bufo-real, uma ave de rapina portuguesa, com os seus fantásticos olhos cor de laranja e os dois penachos na cabeça, quais orelhas, não está dicionarizado?

 

[Texto 8466]