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Linguagista

Léxico: «meia-vida»

Para evitar disparates

 

      «A fissão nuclear é a forma mais eficiente de gerar energia elétrica e, à primeira vista, é bem mais ecológica que o uso de combustíveis fósseis, pois não gera gases poluentes. No entanto, os resíduos nucleares necessitam de ser isolados durante 5730 anos (a meia-vida dos isótopos radioativos) até terminar o efeito da radioatividade, pois constituem um perigo para todas as formas de vida na Terra» («Este diamante pode gerar energia elétrica durante milhares de anos sem poluição», Motor 24, 17.12.2017, 11h48).

      Meia-vida (tão simplesmente half-life, para a legião de anglófonos que nos segue). É um conceito demasiado importante para que os dicionários não registem o termo.

 

[Texto 8482]

Língua, dialecto

E o barranquenho

 

      «As línguas faladas em Portugal não estão no estudo, mas podemos ver o seu estatuto no Ethnologue. O português tem o estatuto “nacional”, enquanto o mirandês (na zona de Miranda do Douro) é “regional”. Depois há o barranquenho (de Barrancos), que está “ameaçado”, ou o caló (a variedade do romani falado na Península Ibérica pelo povo cigano), “em desenvolvimento”. “E alguns resquícios de ladino ou judeu-espanhol. Essas são mesmo as mais conhecidas”, destaca Vera Ferreira, responsável pelo Arquivo de Línguas Ameaçadas na Universidade de Londres» («Há línguas quase extintas. Como podemos salvá-las?», Teresa Serafim, Público, p. 19).

      Língua, dialecto... é um debate infindável. Seja como for, passemos ao Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Aqui, barranquenho não é língua, nem dialecto, nem nada relacionado com tal domínio. Caló, por sua vez, é a «linguagem própria dos ciganos espanhóis». Já minderico, que não aparece neste excerto do artigo, é «variante linguística falada em Minde». Parece-me que há aqui algum trabalho para fazer.

 

[Texto 8481]

Sobre «parzinho»

O que imaginamos

 

      «Enquanto toca, olha para a rua, lá em baixo, e vê um parzinho abraçado; pousa neles o olhar escuro e profundo e depois desvia os olhos» (Os Sonhos de Einstein, Alan Lightman. Tradução de Ana Maria Chaves. Alfragide: Edições Asa, 10.ª ed., 2010, p. 99).

      O que imaginam quando alguém usa, o que é muito comum, a palavra «parzinho»? Eu imagino logo um rapaz e uma rapariga, portanto, pessoas jovens. «Ali na praceta estava um parzinho na marmelada.» E se forem pessoas mais velhas? «Hoje ao almoço estava um casal no empernanço.» (Palavra ignorada pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.) Ocorre o mesmo com o par casal/casalinho. Não é (ou também é?) um problema de tradução, mas vejamos como está no original. Está «a couple close together». Contudo, umas linhas mais à frente, encontramos esta frase: «O homem olha para a rua, lá em baixo, vê um par abraçado, desvia os olhos e pensa na mulher e no filho.» No original: «a couple close together».

 

[Texto 8480]

Léxico: «dessincronia»

Tem de se escolher uma

 

      «Porém, dois relógios separados pela distância batem com ritmos diferentes — quanto mais afastados, tanto maior a sua dessincronia» (Os Sonhos de Einstein, Alan Lightman. Tradução de Ana Maria Chaves. Alfragide: Edições Asa, 10.ª ed., 2010, p. 93).

      São poucos os dicionários que registam o termo. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista apenas o verbo dessincronizar — de onde se podia razoavelmente fazer derivar dessincronia. Como termo médico, porém, uma parte da comunidade médica brasileira opta pela grafia «dissincronia», com o argumento de que raramente os termos médicos recorrem ao prefixo des. O Aulete é mesmo por esta grafia que opta.

 

[Texto 8479]

Ortografia: «desconforme»

Antes à letra

 

      «Era algo de mágico, de insuportável, algo de disconforme com as leis da natureza» (Os Sonhos de Einstein, Alan Lightman. Tradução de Ana Maria Chaves. Alfragide: Edições Asa, 10.ª ed., 2010, p. 91).

      Errado: é desconforme. Pode ser confusão com «disforme», por exemplo. Com palavras que não usamos todos os dias, temos de ter o cuidado de consultar um dicionário ou vocabulário. No caso, a tradutora devia limitar-se a traduzir o original à letra: «it was outside natural law».

 

[Texto 8478]