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Linguagista

Léxico: «profundímetro»

Mais preciso

 

      «Outras formas de ver a profundidade dos sulcos envolvem um profundímetro, mas não sendo um utensílio comum de encontrar nas ‘malas de ferramentas’ de uma grande parte dos condutores atuais, a moeda acaba por ser um método relativamente simples e fiável para verificar o estado dos pneus» («Quer saber o estado dos pneus do seu carro? Basta uma moeda», Motor 24).

      Ainda bem que uma simples moeda serve, porque o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não tem profundímetro.

 

[Texto 8507]

Léxico: «recondicionar»

A brincadeira continua

 

      E a propósito do Brasil: há dias, passei pela montra de uma loja em que estavam vários modelos de iPhones recondicionados. (Não aconselho semelhante compra, mas essa é outra conversa.) Quem nunca leu ou ouviu a palavra? Bem, pois no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora lê-se isto no verbete do verbo recondicionar (aqui): «Brasil restituir à condição original; restaurar». Só uma auditoria permitiria identificar e castigar o brincalhão que despejou etiquetas «Brasil» no dicionário. Entretanto, quem consulta o dicionário tem de ter cuidado onde pisa.

 

[Texto 8506]

Léxico: «porco-formigueiro»

Também no Brasil

 

      «Fogo atinge café e loja do zoológico londrino. Pelo menos um animal morto e quatro desaparecidos. [...] O animal que morreu é um porco formigueiro. Quatro suricatas estão dadas como desaparecidas na sequência do incêndio que afetou o café e a loja do zoológico londrino» («Oito pessoas assistidas após incêndio no Zoo de Londres», TSF, 23.12.2017, 17h22).

      Na Folha de S. Paulo, o título da notícia é assim: «Incêndio no zoológico de Londres mata um aardvark e suricatos desaparecem». No corpo da notícia, têm de acrescentar que se trata de um «animal africano». Muito esclarecedor... Podia ser pior? Pode sempre: «Incêndio no zoológico de Londres mata um aardvark e meerkats desaparecem». O VOLP da Academia Brasileira de Letras regista «suricato» e «suricata», ao passo que nós só temos este último. Ah, e também regista «porco-formigueiro». O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista porco-formigueiro (aqui), numa definição longa, mas não completa: falta o nome científico, que é Orycteropus afer.

 

[Texto 8505]

Tradução: «potable»

Não é água

 

      Há erros e erros, nem todos têm a mesma gravidade. Ontem, ao início da noite, vi na RTP2 uma parte do episódio Mistério na Ópera, da série Mistérios de Paris. Comecei a ver precisamente quando duas personagens, duas mulheres, conversavam e a mais velha lançava as cartas à mais nova. Ia aparecer um amor. A mais velha comentou então que desejava que não fosse um espectador. «Nem um empregado, já dormi com a maior parte dos potáveis», responde a mais nova. Onde é que o responsável pela tradução e legendagem, Miguel Vasconcelos, alguma vez ouviu isto de um português? Nunca. Erro crasso que temos de defenestrar. Em português, «potável» significa que se pode beber, e nada mais. Já em francês, que é a língua da série, potable tem um significado adequado ao contexto: «[En parlant d’une pers.] Ça t’apprend à connaître les hommes : des flambards dont pas un sur dix peut faire un amoureux potable (QUENEAU, Pierrot, 1942, p. 98)» (in Trésor de la langue française informatisé). Como traduzir então? Por exemplo, por «aproveitável», «aceitável». Pobres telespectadores...

 

[Texto 8504]