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Linguagista

Inventar nomes para os filhos

Ora esta

 

      O prestimoso Correio da Manhã já veio revelar o nome das gémeas de Luciana Abreu, nascidas no passado sábado: Lamour e Lavie. O cidadão comum tem por vezes dificuldade em dar nomes comuns aos filhos. Eu próprio passei pela experiência na conservatória da Fontes Pereira de Melo. Em relação ao nome das filhas que teve com Djaló, Lyannii Viiktórya e Lyonce Viiktórya, a justificação absurda que li foi a de que, como o pai era estrangeiro, as filhas podiam ter estes nomes. Nomes inventados pelos pais? Agora ambos os pais são portugueses (esperemos que ser guia turístico não sirva desta vez de justificação). Dantes, cheguei a dar conta disso aqui, havia, ao que me lembro, duas listas de nomes próprios: uma de nomes admitidos e outra de nomes não admitidos. (Claro que basta uma: a primeira.) Desconheço a periodicidade com que era actualizada, mas imagino que fosse quando o rei fazia anos. Agora, há uma só lista, actualizada, ao que li, de três em três meses. Só para terem uma ideia, o primeiro nome feminino que nela consta é Aabirah e o primeiro nome masculino é Aabaj. Como os nomes estão todos misturados, desde Txissolas a Vanessas, o cidadão fica com a ideia de que pode atribuir qualquer destes nomes aos filhos. Não é assim. Surpresa: na lista não constam Lamour nem Lavie. Em suma, para o Estado, uns são filhos e outros enteados. C’est la vie (não Lavie). Há momentos, e este é um deles, em que me envergonho de ser português.

 

[Texto 8516]

Ortografia: «automobilizado»

Belo presente

 

      «Numa altura em que a operação “Natal Tranquilo” da GNR já registou mais mortos do que no ano passado, a Associação de Cidadãos Automobilizados responsabiliza o Governo pelo aumento destes números da sinistralidade» («“Estado falhou” na segurança rodoviária, diz Associação de Cidadãos Automobilizados», Rádio Renascença, 26.12.2017, 11h08).

      Aludi ao Dia do Pensamento e isto começou logo a funcionar. É a primeira vez que vejo o nome daquela associação escrito desta forma. Recorde-se que se chama a si mesma Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, com a inconcebível sigla ACA-M, mais adequada a uma Associação de Comércio Automóvel da Madeira. Nem por ter um escritor na direcção... Auto- não é aqui o elemento de formação que exprime a ideia de automóvel? Então, apenas é seguido de hífen quando o elemento seguinte começa por vogal ou por h, r ou s. E no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o sentido do vocábulo automobilizado não devia ser alargado? Porque é automobilizado apenas o que conduz um automóvel? E os passageiros são o quê, *heteroautomobilizados? Com os automóveis autónomos cada vez mais próximos (o meu, com quase três anos, estaciona autonomamente), será sempre uma definição para rever.

 

[Texto 8514]

 

      P. S.: Agora é rezar para que a Renascença não venha, como a minha filha costuma dizer, *errogir isto.

Léxico: «guia/guidismo»

Presente de Natal

 

      Baden-Powell, guias e escuteiros, Dia do Pensamento... Tudo muito bem, mas no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora no verbete guia não se encontra a acepção referente ao escutismo, e, como era previsível, também não encontramos guidismo. Conseguimos resolver esta falha até ao Ano Novo? Obrigado.

 

[Texto 8513]

Léxico: «segundo-comandante»

Pois, mas também existe

 

      «Este é já o terceiro grupo de cabo-verdianos nos BVB. Todos estudantes do IPB. Os primeiros chegaram em 2013 e “causaram alguma estranheza”, confessa o segundo-comandante, Carlos Martins» («Aqui os estrangeiros só lamentam uma coisa: “Isso mesmo, o frio”», Samuel Silva, Público, 26.12.2017, p. 10).

      O que vemos é que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista «segundo-cabo», «segundo-furriel», «segundo-grumete», «segundo-marinheiro», «segundo-sargento», «segundo-subsargento» e «segundo-tenente», mas não segundo-comandante, que, contudo, vamos encontrar no Vocabulário Ortográfico Português do ILTEC.

 

[Texto 8511]

«Passa-palavra/passa-a-palavra»

Não invente

 

      «Depois, o passar-palavra fez o resto» («Aqui os estrangeiros só lamentam uma coisa: “Isso mesmo, o frio”», Samuel Silva, Público, 26.12.2017, p. 10).

      Samuel Silva, garanto-lhe que não precisa de inventar nada: os vocábulos passa-palavra e passa-a-palavra já existem e estão dicionarizados. Agora, basta vencer a preguiça e consultar o dicionário sempre que se mostrar necessário.

 

[Texto 8510]

Léxico: «pescador lúdico»

Reúne todas as condições

 

      «Já aos pescadores lúdicos de pesca à cana, a Marinha aconselha cautela, evitando pescar junto a zonas de arriba nas frentes costeiras atingidas pela rebentação das ondas» («Mau tempo. Marinha alerta que ondas podem chegar aos sete metros», Rádio Renascença, 25.12.2017, 18h22).

      É expressão que se encontra cada vez com maior frequência, e não apenas na imprensa: a Autoridade Marítima Nacional também a usa. Num fórum, uns quantos brasileiros estranhavam o adjectivo, e um até aventava a hipótese — tão facilmente infirmável (outro termo que falta no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora) — de que fosse necessidade pontual do jornalista. Porque está a ter um uso constante, me parecer necessário e o adjectivo «lúdico» ser relativamente desconhecido do falante médio, creio que a expressão devia ser dicionarizada.

 

[Texto 8509]