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Linguagista

Léxico: «coabitação»

Pelo menos incompleto

 

      «Mário Soares acabava de celebrar o segundo ano de mandato com o livro “Intervenções” e recados: não seria um Presidente corta-fitas e estaria presente na vida política, interferindo. Soares rejeitava assim o papel de contrapoder, promete coabitação mas define o mandato como “magistério de influência”» («Chá de hortelã, velhos do Restelo e puré de lentilhas», Teresa Dias Mendes, TSF, 1.03.2018, 18h43).

      Passemos já à conclusão: está errado o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora quando define coabitação como a «coexistência, num governo, de tendências políticas opostas». Não, não é por ser uma jornalista a dizer o contrário: é por todos nós sabermos, os especialistas saberem. «A segunda coabitação deu-se entre Jorge Sampaio, na presidência, e o governo PSD-CDS de Durão Barroso e Paulo Portas, a que sucedeu Santana Lopes, depois da ida de Durão Barroso para a Comissão Europeia, que terminou com a dissolução do parlamento pelo Presidente Sampaio» (O Sistema Político Português, Manuel Braga da Cruz. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2017). (E querem ver que corta-fitas é indicionarizável?)

 

[Texto 8839]

Nagolite, velas de amonite, cordão lento...

É chinês

 

      «O Comando Territorial de Bragança divulgou esta quinta-feira que o Posto Territorial de Izeda da GNR, recebeu, na quarta-feira, informação de que “uma casa devoluta continha no seu interior materiais suspeitos”. Os militares deslocaram-se ao local e encontraram “297 velas de amonite, 62 quilos de nagolite, 92 unidades cápsulas detonadoras e 18 metros de cordão lento”» («Dezenas de quilos de explosivos encontrados em aldeia de Bragança», Rádio Renascença, 1.03.2018, 13h27).

      Isto é tudo chinês para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Sobre velas de dinamite, cheguei a tratar aqui no blogue, não sei agora onde exactamente.

 

[Texto 8838]

Neopelagianismo e neognosticismo

Era previsível

 

      «Texto do documento da Congregação para a Doutrina da Fé condena tanto o neo-pelagianismo como o neo-gnosticismo, ou seja, as ideias de que a pessoa se pode salvar a si mesma» («Vaticano publica documento sobre salvação, face às confusões deste tempo», Aura Miguel, Rádio Renascença, 1.03.2018, 13h10).

      Eu nem queria que fossem para os dicionários — se pelo menos os jornalistas, pessoas que lidam todos os dias com a língua escrita, não errassem nisto. Assim, tem de ser: neopelagianismo e neognosticismo. Uma escapatória, mas que não podem usar comigo, é afirmarem que está assim na carta aos bispos. Pois, mas cada macaco no seu galho. Placet ignorantibus.

 

[Texto 8837]

Léxico: «motorroçador(a)»

A realidade sempre à frente

 

      Hoje é Dia Mundial da Protecção Civil, por isso... falemos de motorroçadores ou, como também se diz, motorroçadoras (como aqui, no opúsculo Utilização da Motorroçadora nos Trabalhos Florestais, editado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas). E hoje na imprensa: «Pedro Serra Ramos [presidente da ANEFA, Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente] está convencido que há muita falta de formação nas novas empresas a fazer estas limpezas e “não basta ir ao supermercado comprar um motorroçador para saber limpar mato”, aumentando os riscos para as plantas e animais» («Há empresas de limpeza da floresta sem nada para fazer», Nuno Guedes, TSF, 1.03.2018, 6h49).

      Há motorroçadores nos supermercados, não os há no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. A realidade sempre à frente dos dicionários.

 

[Texto 8836]